A inovação gera mudanças que vão muito além do que se pode observar com antecedência. Quando uma tecnologia, ainda que pouco complexa, rompe o modo de se fazer algo, há consequências profundas. As mais óbvias, conseguimos antecipar.
Porém, muitas outras só compreendemos quando estamos diante delas.É como abrir uma Caixa de Pandora, de onde sai o que já foi previsto, mas também o inesperado. De qualquer forma, uma vez aberta, não temos outra opção senão lidar com ela.
Pensando na prática
Para entendermos isso melhor, pensemos em algo corriqueiro, como dirigir. É bem provável que as crianças de agora não precisem tirar carteira de motorista quando forem adultos, considerando o potencial dos carros-robôs, que já são uma realidade. Os benefícios dessa inovação são muitos.
Se os carros deixarem de ser conduzidos por humanos, os índices de morte nas estradas irão despencar. Também, o trânsito será mais eficiente, as pessoas, menos estressadas, e sobrará tempo livre durante os trajetos para fazer outras coisas enquanto um computador dirige o carro, que, possivelmente, será carro elétrico.
Embora o cenário pareça muito vantajoso, também há desdobramentos não desejados. Haverá muitos afetados negativamente, incluindo a indústria automobilística, os postos de combustíveis e, talvez, o governo, com a eventual perda de arrecadação. Além disso, surgem novos desafios, como regular o trânsito dirigido por robôs.
Nos Estados Unidos, na década de 1920, época em que o automóvel se tornou um produto de massa e as vendas anuais aumentaram de 1,5 milhão para mais de 3,6 milhões, o movimento do mercado causou prosperidade para muitos e melhorou a vida da população como um todo, mas representou tragédia para outros.
Quais foram os impactos disso?
Algumas das consequências que a chegada do automóvel causaria na sociedade norte-americana certamente foram antevistas – claro que os charreteiros sofreram – outras, ninguém imaginou. Uma delas foi um corte no preço médio dos produtos agrícolas, que penalizou os agricultores. Por consequência, houve um aumento brutal da inadimplência e muitos bancos agrícolas faliram.
Historicamente, pouquíssimos inovadores foram capazes de predizer as consequências da disrupção que causaram. O jogo de adivinhar o futuro é divertido, mas dificílimo. Estas histórias podem parecer antigas, mas sua lição permanece vivíssima: tecnologias novas importantes não têm apenas efeitos isolados.
Além de seus impactos diretos e mais óbvios, elas acabam afetando e transformando mercados e setores que, até aquele momento, pareciam protegidos e imunes e remodelam a sociedade profundamente. Se a sua impressão é que inteligência artificial, impressão 3D, blockchain, realidades virtual e aumentada, entre outras tecnologias disruptivas que estão evoluindo rapidamente não vão mexer com a sua vida, é melhor pensar mais profundamente sobre o assunto.
Excelente Ricardo! Eu estava há pouco lendo a respeito do Open Insurance e Open Finance e analisando a percepção dos maiores entusiastas sobre essas inovações nos Serviços Financeiros e como irão impactar positivamente a vida das pessoas. Entretanto, toda a mudanças trazem consequências positivas e negativas. Eu imagino um cenário de acirrada concorrência, que é em parte é positivo, porém poderá sufocar os consumidores com ofertas de produtos e serviços e talvez muita instabilidade no mercado financeiro. A padronização dos dados para maior controle e melhor eficiência no compartilhamento exige também maior segurança cibernética, e eu vejo poucos entusiastas tocando nesse assunto. O questionamento objetivo é: somos realmente capazes de garantir a total segurança das informações, competitividade “saudável” e bem estar do consumidor? Será que o consumidor, de fato, terá TOTAL controle sobre a sua vida financeira e decisões? Eu acredito sim em um ecossistema que permita oferta de produtos e serviços financeiros de modo que o cliente possa optar pelo que atenda melhor as suas condições e que o torne responsável, de fato, pelos seus recursos. Mas simular como tudo isso aconteceria, ao invés de apenas teorizar, nos trará um cenário muito mais realista, e talvez seja necessário maiores especificações e detalhamento.
É importante buscar as habilidades do futuro. E como fazer com as pessoas que tiveram seus trabalhos substituídos pela tecnologia?