Um dinossauro discursa na ONU alertando sobre os riscos trazidos pelas mudanças no clima e diz sobre a “Salvem sua espécie antes que seja tarde” – tudo no vídeo aponta para uma verdade reconfortante: a inovação está entre as principais ferramentas para combater as mudanças climáticas.
O carpete do grande salão de conferências da ONU, em Nova York, não foi capaz de abafar o som provocado pelo impacto dos passos de um Tiranossauro Rex de oito toneladas em seu caminho até o púlpito de discursos, deixando representantes do mundo todo assustados. A música de suspense sobe e um close do segurança paralisado, totalmente em choque, faz todo mundo se sentir representado. Até que a criatura de mais de seis metros e dentes afiados abre a boca para perguntar em bom inglês “Você está bem?”, todo solícito. Essa sequência abre um dos vídeos mais geniais já produzidos pela Organização das Nações Unidas, que está viralizando rápido e a cada hora ganha mais milhões de visualizações. Uma peça inovadora em termos de comunicação, que junta surrealismo, humor, denúncia e uma chamada para mobilização que é tão potente quanto marcante – exatamente como um T-rex.
No vídeo, o dinossauro diz textualmente “Ser extinto é ruim. (…) Nós pelo menos tivemos um asteroide, qual é a desculpa de vocês?” e segue indignado, dizendo que a humanidade está seguindo em direção a um desastre climático. Sem papas na língua, ele confronta diretamente os governos que subsidiam fontes de energia que causam aquecimento global em vez de usar esse dinheiro para erradicar a pobreza. No trecho final, o gigante chama atenção para a oportunidade que a retomada pós-pandemia dá a todos para reconstruir a economia em bases ambientalmente mais saudáveis. “Essa é a grande oportunidade da humanidade!”, reforça o maior predador do período jurássico.
O vídeo foi lançado às vésperas da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática e o recado não poderia ser mais claro: o aquecimento global pode levar à extinção da espécie humana tanto quanto de todas as outras espécies atualmente no planeta.
O que aprendemos com isso?
Chegou a hora de parar de procrastinar, de adiar as decisões, de financiar a omissão. Não é mais questão de ideologia ou política. É questão de sobrevivência.
O momento em que vivemos pede atitudes urgentes. Precisamos de máquinas mais eficientes em sua utilização de energia, carecemos de processos produtivos ambientalmente corretos e de aumentos gigantescos de produtividade para garantir o bem-estar dos mais de 7 bilhões de humanos deste planeta.
A boa notícia é que a inovação – em produtos, processos e mentalidades – pode acelerar a realização de tudo isso.
É importante notar que a mentalidade inovadora traz consequências concretas. Embora seja um conceito imaterial, ao longo da história é notável como a inovação de tornou uma ferramenta fundamental na criação de contextos onde grandes saltos evolutivos da humanidade ocorreram. Na Roma Antiga, no Renascimento, na Segunda Revolução Industrial do século 19, nos anos 1950/60 e nos anos 1990 – nessas épocas o desejo de buscar o novo, de aumentar o conforto das pessoas, de ampliar o acesso às novidades e de gerar riqueza para as nações levaram a humanidade a criar aquedutos, redes de estradas, a bússola, as máquinas a vapor, a lâmpada, a eletricidade, o telefone, o avião, todos os eletrodomésticos – obrigada pela máquina de lavar! — o computador pessoal, a internet e o celular.
Em cada uma destas fases de extrema inventividade, o que havia no ar era o entusiasmo pela descoberta e o desejo de ir além. Nesses momentos havia um “espírito do tempo”, um “zeitgeist”, que impulsionava a humanidade a ir além corajosamente, até onde ninguém havia ousado ir.
O impacto dos negócios inovadores
Hoje estamos vivendo nesses tempos em que buscar o novo é obrigação, é a única opção para evitar a aniquilação dos nossos negócios e modo de vida. O desaparecimento de postos de trabalho e a sua substituição por novas atividades acontecem todos os dias! Imagine o sujeito que trabalhava na Blockbuster em 2007 e tinha um “five year plan” para a carreira dele. Se ele foi esperto, se adaptou ao fim da sua atividade. Em 2012, a gigante de aluguel de vídeos e DVDs tinha sido varrida do planeta por um meteoro chamado Netflix enquanto todos os fabricantes de mídias físicas ficaram observando seu mundo ser convertido em streaming.
Todo mundo desta atividade teve que se reinventar. A inovação não espera ninguém. Segue seu caminho como um tsunami, que exige que tudo seja reconstruído depois dele.
A inovação é como a seleção natural descrita por Darwin, às vezes é cruel, mas sempre se justifica. Nesse contexto, os mais adaptáveis sobrevivem. Por isso cada indivíduo tem que entender que é sempre melhor estar no time da inovação do que no da extinção.
Inovar é mais do que um seguro contra a irrelevância inexorável de quem se agarra ao passado, é melhor ação para construir o futuro que queremos. Se escolhermos evitar o armagedon e fim da nossa espécie, o melhor é buscar as formas para parar a mudança climática ao mesmo tempo em que preservamos as conquistas que a ciência nos trouxe.
Ser um ativista da inovação é apoiar a criação de combustíveis mais eficientes e menos poluentes, é mostrar que o investimento em ciência, tecnologia e desenvolvimento de produto vai nos salvar da tragédia climática e ainda nos garantir mais comida, menos poluição e mais igualdade.
A inovação é a nossa melhor saída — se não for a única. Vamos ser honestos, a estas alturas da história não dá para voltar atrás e passar unicamente a se locomover a pé, a usar tração animal ou a viajar só em barcos a vela.
Por isso, dentre todos os que subiram ao púlpito da ONU recentemente, o que mais me convenceu foi o ficcional T-Rex Frankie – sim, esse é o nome do protagonista do vídeo, que em uma clara referência à franqueza com que ele fala. Para construir esse personagem, os roteiristas do vídeo foram até o passado do planeta – 70 milhões de anos atrás – para nos mostrar que a extinção não é um conceito abstrato. A ossada no Museu de História Natural, a poucas quadras de distância da ONU, prova isso. O que nos resta é ir além da política e tornar a busca por eficiência, limpeza, conforto e inclusão o propósito maior de cada uma das nossas ações.