As estratégias que deram certo até o momento não vão gerar os mesmos resultados daqui para frente, pois estamos adentrando em um mundo diferente, na medida em que as economias se reerguem e os hábitos se modificam.
Como em todo processo evolutivo, existem as espécies que se extinguem e aquelas que resistem. Não à toa, estamos falando em Camelos, ao invés de Unicórnios!
Mas engana-se quem pensa que já podemos prever o que virá, com base nos impactos da pandemia e economia que vimos até agora.
Com altas taxas de desemprego, maior endividamento de famílias, empresas e governos, disputas políticas, pacotes de apoio que ultrapassam os trilhões, é provável que incertezas continuarão presentes por vários anos. No meu artigo anterior sobre a crise econômica dos EUA, detalhei bem essa situação. Se não leu, reserve 15 minutos para analisá-lo, vale à pena.
Fato é: Um novo mundo está surgindo. Como diz Ray Dalio, “uma nova ordem mundial” no sentido estrutural financeiro, econômico e comportamental está se apresentando. Por isso, agora você precisa parar e pensar:
- Estou preparado para a reabertura econômica que se aproxima?
- Tentarei criar negócios em um mundo que não existe mais?
- O que preciso desaprender para dar espaço para as novas premissas?
- Que habilidades serão necessárias para navegar em novos mares?
É sobre esta última questão que vou tentar trazer à tona, cinco habilidades para vencer no mundo pós-crise.
Adapte-se com agilidade ou morra
O “novo normal” é mais normal do que você imagina. Essa história já é antiga. O mundo sempre mudou, não é uma novidade que enfrentaremos no pós-crise.
“A ordem mundial está agora mudando rapidamente de maneiras importantes que nunca aconteceram em nossas vidas, mas aconteceram muitas vezes na história.”, disse Ray Dalio.
Nos últimos 500 anos houve muita guerra, disputa por poder, mudanças de eixos econômicos e de poder, doenças e, claro, vírus.
O “novo normal” tão falado recentemente é uma visão curta da realidade, ou seja, é uma visão em apenas uma pequena parte no gráfico evolutivo da história humana.
Pense que a era da agricultura foi o novo normal após milhares de anos migrando em busca de comida e abrigo. Depois veio o novo normal com a revolução industrial. Depois desta última, veio o novo normal da era da informação. E assim por diante.
Ou seja, ciclos evolutivos sempre aconteceram e agora, pasme, não será a última vez!
A diferença daqui pra frente é que as mudanças e incertezas parecem estar acontecendo cada vez mais rapidamente, em ciclos cada vez menores, tornando muito mais difícil prever as tendências e o comportamento do mercado.
Isso traz à tona a necessidade de adaptação ágil.
A habilidade mais importante do “novo normal” é adaptar-se rapidamente para lidar todos os dias com desafios e constantes mudanças.
Se você leva muito tempo para fazer algo que você decide, então suas decisões são muito conservadoras e temerosas.
Sinto dizer, mas nessas condições, seus resultados serão insuficientes ou um fracasso.
Agilidade é como um barco, ou melhor, uma lancha. Compare-a com um navio transatlântico. Uma lancha tem a capacidade de mudar de rota, desviar de perigos e obstáculos rapidamente, fugir de perigos, etc.
Quem sobrevive é aquele que se adapta, não o mais forte, não o mais rápido.
Direção é mais importante que velocidade
Não se trata do tamanho de uma empresa, mas sim, na mentalidade dos gestores, na agilidade de raciocínio e, principalmente, na agilidade de execução.
Você pode estar pensando que isso é coisa de empresa hi-tech-asset-light, startup, serviços, mas te digo que não é.
Por exemplo, em junho de 2020 a AB Inbev, maior cervejaria do mundo, anunciou conclusão da venda de sua subsidiária na Austrália, por AU$ 16 bi, em um prazo de um ano, para reduzir seus níveis de endividamento. Um gigante que teve pensamento ágil, para reduzir peso e corrigir sua rota.
Sendo bem objetivo, para se adaptar com agilidade, você precisa:
- Aprender a desaprender e aprender novamente. Para isso, tenha humildade;
- Multitarefa é um mito da produtividade. Excelência exige Foco;
- Menos é mais, feito é melhor que perfeito;
- Equipes aderentes ao propósito da organização;
- Processos enxutos e centrados na experiência do cliente;
- Ferramentas ágeis e adequadas aos novos tempos.
Equilíbrio entre Corpo, Mente e Espírito
A ansiedade é, definitivamente, o mal do século. Somando uma crise econômica e de saúde globais, desemprego, medo de sair de casa, tensões políticas para todos os lados, em diversos países chave, como manter-se calmo e centrado?
Equilibrar-se. Esta habilidade nunca foi tão importante quanto será no pós-crise. É preciso investir no fortalecimento desse equilíbrio a fim de se manter lúcido em um ambiente incerto.
Imagine se o capitão de um navio se desespera com a tempestade, ajoelha no convés e chora? É o fim da jornada.
Ao invés disso, ele deve respirar profundamente, conectar-se com seu propósito, olhar adiante (mesmo que não enxergue muita coisa), confiar na equipe, nos equipamentos e em sua experiência, para conduzir o barco na travessia.
Recomendo que mantenha o foco nas tarefas mais importantes do seu trabalho, aqueles que mais vão impactar positivamente seus clientes e colaboradores.
Feito isso, reserve tempo para você, sua família, saúde e espírito. Os resultados de uma mente calma e centrada surgirão muito mais rapidamente do que você imagina.
Surdez planejada
Imagine que a partir de hoje você vai se desligar completamente dos canais de informação e notícias. Você desinstalou todos os aplicativos de notícias, mensagens e redes sociais do celular e cortou a TV da sua vida.
Agora dá para ouvir o vento assoprando, os pássaros cantando e seu coração batendo. Aliás, quando foi a última vez que você ouviu/sentiu seu coração bater?
Pois é, nessa loucura toda de pandemia e correria, uma avalanche de notícias e atualizações invadem nossas casas e mentes. Isso drena nossa energia e, principalmente nosso tempo e foco.
Você deve adotar uma atitude proativa com relação a isso e reduzir ao máximo a ingestão de informações inúteis. Adote a Dieta da Informação. Faça disso um hábito.
Desligue o noticiário e os grupos inúteis. Busque poucas e boas fontes confiáveis de informação, como o AAA Inovação, por exemplo. Diminua os ruídos, aniquile as fake news.
Sério, mesmo fazendo tudo isso, garanto que você continuará sabendo das coisas. Aquilo que realmente importa vai chegar até você e vai sobrar tempo e espaço na sua mente para se dedicar àquilo que mais importa na sua vida.
Visão bifocal
É o famoso ditado popular “um olho no peixe, outro no gato.” Isso sempre foi importante, mas daqui para frente, essa habilidade será cada vez mais crucial, ainda mais no pós-crise.
Na prática, você precisa estar com um olho no seu propósito e metas de longo prazo. Claro que é necessário projetar cenários, mas nunca tire isso da sua frente.
- O que seria do capitão do barco, sem seu mapa de navegação?
- Onde sua empresa quer chegar?
- Onde você quer chegar?
E o outro olho precisa estar, simultaneamente no presente, no curto prazo.
Imagine que você é o capitão da lancha, que precisa sair do Rio de Janeiro e chegar até Miami.
Nesta analogia, você precisa planejar paradas mais curtas, ajustar a rota, fazer ajustes, avaliar resultados o tempo todo, buscar dados e tendências de comportamento externo, como tempestades, precipitações, movimentos civis nos próximos pontos de parada, preços das comodities no local de parada, etc.
Por tudo o que estamos vendo no mundo, acredito que essa habilidade de ter um olho no destino e outro no momento atual, será fundamental para profissionais e empresas se manterem firmes, não importa o cenário.
Alianças estratégicas
Com mudanças rápidas e tecnologia a passos largos, fica fácil imaginar mercados cada vez mais competitivos, bem como concorrentes em toda parte.
Consumidores mais exigentes e conectados demandarão ainda mais agilidade, conveniência, experiência e exclusividade por parte das empresas.
Agora te pergunto: Você consegue fazer tudo isso sozinho?
Times de vendas caros, estruturas inchadas, investimentos massivos em marketing de esperança (anuncia e espera cliente comprar) ainda estarão presentes em muitas empresas, MAS, não acredito que por muito tempo.
Como então aumentar a carteira de clientes e otimizar custos nesse ambiente?
A resposta é: Consolidação de mercado.
Colocado de outra forma, no pós-crise você precisa olhar seus concorrentes, quiçá a cadeia produtiva inteira, como potenciais ALIADOS.
Sim, agora é o momento de colocar o ego de lado e juntar forças, fundir carteiras de clientes, experiências, otimizar estruturas físicas, frotas, etc.
No estudo Global Capital Confidence Barometer, realizado pela EY, mais da metade dos líderes entrevistados (56%) afirmam que a intenção de buscar ativamente fusões e aquisições nos próximos 12 meses permanece elevada.
“O cenário de fusões e aquisições geralmente permite às empresas fazerem aquisições de alta qualidade em um mercado em recuperação, o que pode ajudar a acelerar o crescimento da economia no pós-crise”, afirma Eduardo Tesche, sócio de consultoria em estratégia e operações da EY.
Perceba os movimentos de consolidação que já aconteceram com os laboratórios de análises clínicas, educação e academias, por exemplo. Agora olhe para o seu segmento e analise todo o potencial de consolidação. Pense grande.
Por tudo isso, atente-se para esses movimentos de consolidação, antecipe-se, converse com o concorrente, com os players da cadeia produtiva, abra sua mente, pois o futuro será daqueles que melhor se adaptarem. Alô, Darwin?!
Conclusão
Para dominar o mercado nos próximos anos, você precisa entender as tendências e colocar em práticas estas cinco habilidades em um mundo pós-crise.
O passado nos deu algumas pistas, mas a reflexão crítica somada às tendências e habilidades nos dará mais condições de sobreviver e prosperar na nova era que está por vir.
Não permita que o pós-crise se torne uma crise permanente em sua vida e seus negócios.
“Crise é quando ficamos só pensando na crise. Isso não leva ninguém a lugar nenhum. A hora é de trabalhar, de inovar e de liderar”. Nizan Guanaes, empresário e publicitário.
Forte abraço