Muito antes de Mark Zuckerberg, Elon Musk, Tim Cook e Jeff Bezos, já existia Masayoshi Son.
Todos fazem parte do grupo de pessoas mais influentes do mundo e mais poderosas do Vale do Silício, responsáveis pelo lançamento de alguns dos negócios inovadores mais revolucionários das últimas décadas.
Contudo, o investidor sul-coreano que já foi mais rico que Bill Gates (ainda que por três dias) e que já perdeu 99% de sua fortuna durante o estouro da Bolha da Internet em 2000, é a pessoa por trás de algumas das maiores revoluções tecnológicas em andamento.
Você provavelmente não o conhece, mas é bem provável que utilize diariamente os serviços de algumas das empresas investidas por ele, inclusive, temos certeza que já ouviu falar o nome de seu pequeno império, Softbank.
O início no Japão e Dois Conselhos sobre o Futuro dos Negócios
Son nasceu na Coréia do Sul, mas cresceu na ilha de Kyushu, no Japão. À época, ainda havia bastante preconceito contra coreanos por parte de japoneses, o que fez com que Son sofresse bullying na escola.
Ainda pequeno, certa vez disse ao pai que tinha vontade de ser professor. Seu pai então respondeu: “Eu acredito que você é um gênio. Você só não sabe ainda o seu destino”.
Quando seu pai abriu um café e lutava para conseguir clientes, Masayoshi Son sugeriu que ele oferecesse café grátis, o que atrairia clientes para a loja e faria com que eles acabassem comprando outras coisas. Seu pai distribuiu vales de bebida nas ruas e em pouco tempo o café estava cheio.
Aos 16 anos, Son leu um livro escrito por Den Fujita, presidente e fundador da filial do McDonald’s no Japão. Ficou fascinado pelo empresário e por meses tentou agendar um encontro com ele. Ao ter suas tentativas fracassadas, viajou para Tóquio e ficou aguardando o executivo na porta da sede da empresa. Disse à secretária que o empresário não precisaria nem conversar e nem olhar para ele. Son queria apenas vê-lo por 3 minutos.
Toda a audácia fez com que Fujita o recebesse por 15 minutos. O resultado foram dois conselhos que mudaram para sempre a vida do jovem Son: Fujita lhe disse que ele deveria apostar em empresas com negócios para o futuro, não para o passado. Além de lhe aconselhar que ele entendesse o mundo dos computadores.
Motivado por esses conselhos, Son formou-se em Economia e Ciência da Computação pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, e retornou ao Japão para, em 1981, fundar o SoftBank.
O começo não foi nada glamuroso.
A grande aposta de Masayoshi Son
Son tinha apenas dois funcionários trabalhando meio período e não havia fechado nenhum cliente. Mesmo assim, elaborou um plano de 50 anos, focando no longo prazo de negócios focados em inovação. A empresa surgiu como um negócio de software, mesmo em uma época em que poucas pessoas possuíam computadores pessoais e que a indústria de software era praticamente inexistente.
Para conseguir clientes, Son seguiu o conselho que ele mesmo deu ao pai anos antes: Distribuiu modems gratuitamente na rua. Participou de feiras de tecnologia e dizia a todo mundo que a revolução dos computadores estava chegando.
Mesmo com um começo praticamente sem vendas, Son manteve-se persistente e em meados da década de 1990, a SoftBank era a maior distribuidora de software do Japão.
Atraído pelo boom da Internet, Son fez diversos investimentos em companhias do Vale do Silício ainda nos anos 90. A fortuna de Son chegou a crescer em torno de US$10 bilhões por semana e durante três dias, foi mais rico que um dos gênios da inovação, Bill Gates. Contudo, com o estouro da Bolha da Internet nos anos 2000, Son perdeu praticamente toda a sua fortuna.
Mesmo assim, o sul-coreano continuou arriscando e investiu US$20 milhões para comprar 34% das ações do e-commerce chinês. Catorze anos depois, os 20 milhões que o SoftBank investiu valiam aproximadamente 50 bilhões de dólares. A empresa que Son apostou naquela época foi a Alibaba, de Jack Ma, que vale hoje 417 bilhões de dólares e faz de Ma, a pessoa mais rica da China.
O Estilo Direto e os Investimentos em Negócios Inovadores
Son é baixinho e fala calmamente. Raramente usa ternos e muitas vezes recebe os CEOs das empresas nas quais investe, vestindo jeans e calçando chinelos. Mesmo assim, seu estilo de investimento e a velocidade com a qual ele têm feito as coisas vem chamando bastante atenção.
Quando se reúne com CEOs de empresas nas quais ele pretende investir, Son não está interessado nas margens de lucro. Para Robert Reffkin, CEO da Compass, plataforma de automação de corretagem imobiliária, descrita como “o futuro do mercado imobiliário”, Son perguntou “O que você faria se dinheiro não fosse um problema?”.
A Sam Zaid, CEO da plataforma de compartilhamento de carros Getaround, Masayoshi Son perguntou: “Como podemos ajudá-lo a crescer 100 vezes mais?”. Meses depois, o SoftBank investiu 300 milhões de dólares na companhia.
Outro exemplo vem de Eugene Izhikevich. O neurocientista russo é fundador da uma startup chamada Brain Corp, focada na construção de “cérebros” para robôs. Izhikevich apresentou sua startup para Son, com a esperança de conseguir investimento.
Segundo o russo, robôs farão com que a vida humana seja mais fácil, produtiva e segura. Durante a apresentação da empresa para Son, Izhikevich conta que o bilionário o interrompeu e disse: “Entendi. De quanto você precisa para alcançar essa visão?”.
Outro exemplo da estratégia de Son ocorreu quando Cheng Wei, fundador da Didi (uma espécie de Uber chinês) resistiu em receber um investimento do SoftBank.
Segundo Wei, a Didi não precisava do dinheiro, pois já havia levantado bastante capital (algo em torno de 10 bilhões de dólares). A resposta de Son foi simples e direta: “Tudo bem”. Em seguida, deixou claro que poderia então investir em rivais da Didi. Wei acabou cedendo e a SoftBank investiu US$5 bilhões na startup.
Inteligência Artificial, o Futuro dos Negócios e da Humanidade
Mas o que está por trás dos maiores investimentos de Masayoshi Son? Qual padrão ele tem seguido? Como ele tem tentado prever qual o futuro dos negócios?
Em duas palavras: Inteligência Artificial.
Son acredita fortemente que robôs administrarão o planeta de forma mais inteligente que os humanos. O SoftBank está injetando quantidades quase inimagináveis de dinheiro em pessoas e empresas que usam inteligência artificial e machine learning para melhorar todos os setores de nossas vidas, sejam imóveis, alimentos ou transportes.
“Não existe precedente para isso”, diz Steven Kaplan, professor da escola de negócios da Universidade de Chicago, sobre a quantidade investida por Son nos últimos anos.
Relatos dizem que Son frequentemente diz às pessoas: “Eu tenho um plano de 300 anos”. Essa visão de longo prazo está diretamente ligada aos investimentos do bilionário, que possuem o potencial de direcionar o futuro da tecnologia e da própria sociedade.
“Há 20 anos, a Internet começou e agora a Inteligência Artificial está prestes a começar em grande escala”, disse o bilionário a investidores recentemente.
Criação do Vision Fund, fundo milionário da Softbank
Foi justamente pensando nisso que Son criou o Vision Fund, um dos braços de investimento do SoftBank. Considerado o maior fundo de investimento em startups do mundo, o Vision Fund investe no mínimo US$100 milhões em negócios inovadores, principalmente relacionados à Inteligência Artificial.
Outro ponto-chave da estratégia de Son tem a ver com as conexões que ele é capaz de fazer. Recentemente, Son pediu a Marcelo Claure, Diretor de Operações do SoftBank, que iniciasse uma divisão interna na empresa totalmente dedicada à “criação de valor”. A ideia é que os empreendedores do Vision Fund possam acessar os recursos e parcerias globais do SoftBank.
Outro ponto-chave são as conexões criadas entre os próprios empreendedores do Vision Fund. Son sugere que as empresas e empreendedores utilizem os serviços uns dos outros. A Compass e a Uber, por exemplo, alugam espaço da WeWork. O Mapbox, um sistema de navegação com Inteligência Artificial, fechou um acordo com a Uber. A Nauto, empresa que desenvolve uma Inteligência Artificial para veículos autônomos, fechou parceria com a GM Cruise, uma fabricante de carros autônomos.
Todas essas empresas possuem uma coisa em comum: Foram investidas pelo Vision Fund.
O Mundo de Masayoshi Son e o Futuro dos Negócios
Atualmente, boa parte dos investimentos de Son é focado em 3 grandes grupos de negócios.
Negócios Inovadores 1: Mercado Imobiliário 🏢
Aposta de Son: Existe uma oportunidade de que o mercado imobiliário seja quase totalmente automatizado.
Tamanho estimado do mercado imobiliário global: US$228 trilhões.
Principais investimentos:
- 🏢 WeWork
- Empresa americana que fornece espaços de trabalho compartilhados para freelancers, startups, pequenas empresas e grandes empresas.
- Valor de mercado: 47 bilhões de dólares.
- 🏢 Compass
- A empresa fornece software para agentes imobiliários. É conhecida por ser a primeira empresa a ter construído um aplicativo móvel proprietário para corretores.
- Valor de mercado: 4,4 bilhões de dólares.
- 🏢 Katerra
- Construtech que aplica tecnologia para aumentar a produtividade e eficiência da indústria da construção civil.
- Valor de mercado: 1 bilhão de dólares.
- 🏢 Oyo
- Maior empresa de hospitalidade da Índia, focada em hotéis baratos.
- Valor de mercado: 4,3 bilhões de dólares.
- 🏢 Opendoor
- Plataforma que permite a venda de casas em questão de minutos.
- Valor de mercado: 3,8 bilhões de dólares.
Negócios Inovadores 2: Mobilidade 🚗
Aposta de Son: Transportes estão se transformando de algo que pessoas possuem para algo que elas usam sob demanda.
Tamanho estimado de mercado de mobilidade como serviço: 2017 – 24 bilhões de dólares; 2025 – 230 bilhões de dólares.
Principais investimentos
- 🚗 Uber
- Maior serviço de ride-sharing do mundo.
- Valor de mercado: 71 bilhões de dólares
- 🚗 Grab
- Empresa de ride-sharing focada no mercado do Sudeste Asiático.
- Valor de mercado: 14 bilhões de dólares
- 🚗 Didi
- A “Uber Chinesa”.
- Valor de mercado: 56 bilhões de dólares
- 🚗 GM Cruise
- Fabricante de carros autônomos.
- Valor de mercado: Divisão da General Motors avaliada em 19 bilhões de dólares
- 🚗 Ola
- Empresa de mobilidade fundada na Índia.
- Valor de mercado: 6,2 bilhões de dólares
- 🚗 Manbang Group
- Empresa de mobilidade chinesa focada em caminhões.
- Valor de mercado: 6 bilhões de dólares
- 🚗 Getaround
- Serviço de compartilhamento de carros.
- Valor de mercado: Não divulgado
- 🚗 Parkjockey
- Plataforma de aluguel, controle e monetização de vagas de estacionamento.
- Valor de mercado: Mais de 1 bilhão de dólares
Negócios Inovadores 3: Comércio 📦
Aposta de Son: O mercado de comércio online ainda irá crescer muito
Tamanho estimado do mercado: Comércio eletrônico ainda representa apenas 10% do mercado global de varejo (25 trilhões de dólares), segundo dados de 2017.
Principais investimentos
- 📦 Flipkart
- Conhecida como Amazon da Índia.
- Valor de mercado: 22 bilhões de dólares (comprada pelo Wallmart)
- 📦 Brandless
- Empresa americana de comércio eletrônico que fabrica e vende uma variedade de produtos próprios.
- Valor de mercado: Não divulgado.
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- 📦 Zume Pizza
- Fabricante e delivery de pizza que aplica robôs em vários estágios do processo.
- Valor de mercado: 2,2 bilhões de dólares.
- 📦 Coupang
- Empresa de ecommerce sul-coreana.
- Valor de mercado: 9 bilhões de dólares.
E o Brasil?
Além dos mercados imobiliário, de mobilidade, e comércio, Son investe também em diversas outras companhias, como a Bytedance (gigante chinesa avaliada em 75 bilhões de dólares e dona do aplicativo Tiktok); Arm (fabricante de chips) e Automation Anywhere (desenvolvedora de softwares de automação de robôs).
E quanto ao Brasil?
Por aqui, o SoftBank já investiu grandes quantidades de dinheiro em negócios inovadores como Gympass, Loggi, Creditas e Nubank.
Segundo Marcelo Claure, a ideia é que o Vision Fund faça de 1 a 2 investimentos na América Latina daqui pra frente. Segundo ele:
“Nós somos uma empresa tradicional japonesa. Começamos investindo na China, com o Alibaba, e no Vale do Silício. Depois, investimos na Índia – e lá percebemos o potencial de países emergentes. Como sou latino, passei muito tempo tentando convencer Masayoshi Son a investir aqui. Vejo prosperidade econômica chegando ao continente, com reformas e uma série de empreendedores excepcionais. Temos visto cada vez mais latinos nos nossos escritórios em Londres e no Vale do Silício. Era hora de prestar atenção no mercado.”.
Claure deixa clara a visão de Son e do fundo no foco em Inteligência Artificial:
“(…) temos um foco bem específico: procuramos empresas que tenham habilidade de usar inteligência artificial e dados para desafiar indústrias tradicionais. Se investimos em muitas indústrias, é porque muitas delas ainda não passaram por disrupção. Acredito que a internet, com Google e Facebook, só mudou uma indústria até agora: a de publicidade. Mas há muito mais por vir – e se achamos um empreendedor com bom modelo de negócios, estamos interessados.”
Você está pronto para o Futuro dos Negócios?
Diversos autores, entre eles Kevin Kelly e Amy Webb, chamam atenção para como a Inteligência Artificial irá modificar indústrias inteiras e todo o nosso cotidiano. Masayoshi Son parece ter percebido essa tendência.
Nem Elon Musk, nem Jeff Bezos. Nem Mark Zuckerberg, nem Tim Cook. Talvez a pessoa com o maior vislumbre sobre negócios inovadores seja mesmo, o sul-coreano de temperamento calmo.
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