[EXCLUSIVO] 12 Perguntas para Ozires Silva, ex-presidente e fundador da Embraer

“A Embraer foi criada por sonhos, coragem, iniciativas e competências de pessoas como vocês, que ao longo do tempo se dedicaram com muito esforço a crescer no mundo competitivo que vivemos hoje.”

Foi com essa frase que Ozires Silva, cofundador da Embraer e ex-presidente da companhia, começou seu comunicado em 27 de abril de 2020 para toda a equipe da fabricante de aeronaves.

Enfrentando grandes dificuldades no setor aéreo devido aos impactos do coronavírus e também após a corporação norte-americana Boeing rescindir o contrato de R$5,26 bilhões que finalizaria a compra da área de aviação comercial da Embraer, a empresa recebeu mensagem de apoio do maior engenheiro aeronáutico na história do Brasil.

Ozires Silva: Engenheiro, líder, presidente, ministro e professor

Ozires Silva é Coronel da Aeronáutica e formado em engenharia aeronáutica. Em 1969, entrou para história como o líder da equipe que trabalhou na criação da Embraer, primeira fabricante de aviões no Brasil. (Imagem retirada do site Suno Research)

Atual presidente de honra da INVOZ (associação sem fins lucrativos com o propósito de apoiar projetos nos segmentos da educação, empreendedorismo e cultura), Ozires Silva é conhecido por sua longa trajetória profissional no setor de aviação brasileiro, tendo em seu currículo o cargo de ministro de Infraestrutura no início da década de 90, presidência da estatal Petrobras em 1986 e da companhia aérea brasileira, Varig, no início dos anos 2000.

Nascido em Bauru, São Paulo, hoje Ozires tem 89 anos e é reconhecido como um dos principais defensores do investimento na educação e também da parceria entre Boeing e Embraer, que entra agora em nova etapa de negociação.

O AAA Inovação teve o privilégio de conversar com um dos maiores engenheiros do país, sobre os impactos da pandemia do COVID-19 no setor aéreo e em todo o Brasil, compartilhando suas visões através de anos de experiência no mercado brasileiro.

Confira quais foram as perguntas respondidas na entrevista exclusiva que fizemos com o engenheiro Ozires Silva:

Faça a leitura completa de todas as perguntas e respostas com Ozires Silva, cofundador e ex-presidente da Embraer, abaixo:

1. O senhor já vivenciou diversas crises. Como encara a atual crise provocada pelo novo Coronavírus?

O coronavírus chega num momento, num mundo muito diferente das outras epidemias do passado. Já deveríamos ter percebido que o animal homem está causando danos enormes à vida dos próprios humanos, como dos selvagens, da flora vegetal, etc. Então, vale a pena captar uma mensagem da Natureza, que poderia ser:

 “Humanos, vocês exageraram atacando regras que foram criadas para garantir suas vidas, dos outros seres vivos, dos vegetais, dos minerais e assim por diante. Agora, estou dando uma resposta, além das outras às quais vocês não deram a menor atenção. Então, fui forçada a lhes dar mais uma resposta mandando-lhes o COVID-19, já que os 18 outros do passado não foram suficientes”

Voltando a nós, devemos compreender essa mensagem e pensarmos nela veementemente. É certo que exageramos, pois cada um, olhando o que fizemos em termos de gastos desenfreados dos recursos naturais (limitados, como sabemos), estamos fazendo com que a Terra possa não mais conter vidas no futuro!

2. No que essa crise pode ser considerada diferente das anteriores?

Ela é diferente pois aumentou a violência em relação às do passado (gripe, tifo, febre amarela, etc.). E o processo pode continuar de forma cada vez mais difícil de descobrir a cura e vacinas.

3. Se pudesse dar apenas um conselho para os empreendedores brasileiros nesse momento, qual seria?

Seria muita vaidade de minha parte, dar um conselho aos brasileiros, pois também estou procurando encontrar respostas, através de professores, especialistas e técnicos das nossas Universidades da ÂNIMA- Educação e Cultura, aonde trabalho atualmente. Outros, em todo o mundo estão fazendo o mesmo. 

Mas, não precisamos nos limitar a nós, os brasileiros, podemos por exemplo, deixar de consumir petróleo na escala atual, lançando uma série de elementos químicos nocivos ao que respiramos, impedir os desmatamentos, tratar os dejetos e lixo acumulados em escalas brutais, etc. A lista é longa. Mas, a despeito de tudo, sempre precisaremos de investidores e penso que precisamos descomplicar o Brasil, produzir melhores políticos, procurando copiar políticas como as da Coréia do Sul.

4. Em termos de Brasil, o senhor tem uma visão otimista para os próximos anos?

Infelizmente, não tenho uma boa visão. A humanidade, respondendo à característica gregária dos animais, criou as aldeias e cidades, fez surgir as organizações de todos os tipos e modelos que conhecemos. Com a evolução dos empreendimentos, independente dos seus portes, tiveram que se reinventar em poucos dias, acelerando o desenvolvimento e revisão de seus planos de contingência e continuidade de negócios para se manterem operacionais. E, neste cenário, muitos gestores, inclusive os governamentais, se perguntam se estão tomando as medidas corretas para o momento, para as próximas quarentenas à nossa frente. Isto não é suficiente. É olhar para o próprio umbigo. Assim, um melhor e mais organizado futuro temos de construir a partir de agora e não somente curar as vítimas do vírus.

5. Quais lições essa crise pode deixar para nós e para as próximas gerações?

É preciso mudar nossos sistemas operacionais e o que produzimos, no sentido de que coloquei, respeitando a Natureza, pois, se não fizermos isso, ações dela podem acabar conosco, simplesmente aplicando outras ameaças mais intensas do que as atuais. 

A crise atrapalha? Sim atrapalha, mas quando temos um olhar otimista, percebemos que vivemos um tempo precioso para poder fazer a lição de casa, não subestimarmos a crise e o isolamento social.  Assim, esse é um momento de reflexões, nos campos pessoais e coletivos, no olhar ao próximo, na compaixão, na solidariedade, no amor, na convivência familiar, mas também nas visões para dentro dos nossos negócios e dos seus modelos. Temos de ser melhores para sobreviver na dura competição do mundo moderno. Lutar por uma real democracia, como a definida por Abraham Lincoln: “Um Governo do povo, para o povo e pelo povo”. Temos de polir nossa proposta de valor! É hora de entender seu cliente, entender o produto, o serviço que ele presta, entender a expectativa da sociedade.

Seu produto continua atendendo as necessidades dos clientes? Houve um universo de mudanças nesses últimos tempos e vale perguntar se seu produto atende a nova demanda, após essa mudança toda? A mudança de comportamento nos permite valorizar certos serviços que a gente nem dava conta da importância. Você está sensível a tudo isso e preparado para o recomeço? Sua organização é eficiente? Preparada para aceitar mudanças? Sabemos que vai passar tudo isso, mas muito está por vir. Temos muito o que fazer!

6. Qual é o real impacto para a nossa aviação, Ozires Silva?

A aviação surgiu pela vontade e determinação de homens e mulheres pelo voos. Os pioneiros jamais pensaram que há pouco mais de 100 anos a humanidade poderia ter iniciado um processo para estar aonde estamos. Por ideias, iniciativas e inovações, tanto nos voos como na infraestrutura, temos aviões voando para todas as partes do mundo transportando cargas e pessoas, tornando-se parte integrante do desenvolvimento e progresso mundiais.

Hoje, no caso do Brasil, somando todas as caóticas restrições governamentais feitas na vida das instituições, empresas e pessoas, a aviação brasileira, e a mundial, caiu intensamente.

Afetada pela imobilização dos aviões privados e empresariais, a Economia sofreu enorme queda, com prejuízos que serão pesados para serem recuperados. Nós mesmos tivemos um empreendimento aqui no Brasil, com a criação da Embraer, extremamente bem-sucedido. Todavia, parou agora no começo de 2020, forçada pela concorrência mundial foi levada a se associar com a Boeing dos Estados Unidos.

Este acordo, está agora em discussão, pelo quase colapso da Boeing nos Estados Unidos.  Como recuperar tudo isso? Não sabemos, mas a mobilidade proporcionada pela aviação, certamente não morrerá e voltará a florescer. Os empreendedores de fato podem ter agora uma oportunidade de investir em algo que veio para ficar. A Aviação!

7. Qual o sentido de empreender em momentos difíceis como este?

Os empreendedores sabem que nem tudo são flores, mas aqueles que estão dispostos a correr riscos, sempre podem achar uma oportunidade num ambiente hostil, sendo sempre os vencedores. O ambiente empresarial não é estável e requer mobilidade e coragem. Recentemente, nos Estados Unidos, uma pesquisa foi feita e não se localizou nenhuma empresa do mundo que tenha apresentado somente lucro ao longo de suas vidas, nos últimos 60 anos. Muitos grandes empresários de sucesso no mundo, sabem que os desafios estão sempre presente.  Apesar de tudo, asseguram que suas empresas sairão diferentes, e que precisarão ser melhores, ao final da pandemia.

8. Empreendedorismo se aprende ou deve se nascer com alguma referência?

O empreendedorismo, penso eu, tem um pouco de tudo. Pode ser nato, surgir na inocência da infância ou na racionalidade dos adultos. Pode ser uma veia voltada para a estratégia, a curiosidade aguçada, a habilidade de produzir algo inovador e vender ideias, e também, de reconhecer os gostos e as melhores formas de encantar os clientes. Parece-me muito importante a sociedade que nos cerca. Muitos empreendimentos surgiram quando a sociedade no entorno deles precisavam. Os astutos aproveitaram.

9. Sacrifício faz parte da jornada empreendedora, mas como devemos lidar com ele?

Pelo que foi respondido nas últimas perguntas, não somente o sacrifício é necessário, mas tudo o mais, dedicação, crença, capacidade de superar obstáculos e muitos outros atributos ligados ao esforço para buscar o sucesso.

10. Com tanta tecnologia disponível, para onde estamos indo quando se trata de empreendedorismo?

As tecnologias existem e podem ser desenvolvidas pelo empreendedor. Algumas podem ser protegidas por Patentes, criadas pelos Governos de um modo geral. Mas é difícil usar tecnologias úteis que já não estejam nos mercados. O desejável seria encontrar uma tecnologia que possa ser utilizada em outros produtos. Isso é inovar e tem acontecido muito nas produções licenciadas ou não!

11. Como você imagina que será o mundo no próximo século, século XXII?

O Século XXI e os que o sucederão certamente serão também diferentes. A humanidade terá que tomar uma decisão fundamental. Os caminhos que percorremos até agora foram os de desperdícios dos recursos do Planeta, em sua maioria não recuperáveis. A lista é longa, mas o denominador comum, creio, será um fundamental respeito para com o meio ambiente. Não podemos continuar a consumir despreocupadamente os recursos finitos da Terra, como o petróleo, carvão, água e outros, que após seus usos, deixem resíduos que destruam a vida de todos, humanos, vegetação, principalmente. A pergunta importante seria: Como fazer isso? A resposta está com cada um, principalmente com os empreendedores.

12. Em uma frase como você definiria a jornada de um empreendedor?

Sonhar desde cedo pode ser o começo da jornada de um empreendedor e os sonhos precisam das inspirações da sociedade que também seja empreendedora e estimuladora.

Conversamos com um dos maiores engenheiros da história do Brasil, Ozires Silva, que foi fundador da Embraer e hoje atua como principal inspiração para a terceira maior empresa aeronáutica do mundo.

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Ricardo Amorim comentou sobre as Lideranças em tempos de COVID-19

? Aula: 373
? Mentor: Ricardo Amorim
?Trilha: Inovando na prática
?? Duração: 2m47s

Aula completa no AAA Inovação

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