[Análise AAA] Quais as expectativas para o futuro do Turismo após a pandemia?

É esperado o pior desempenho do setor desde 1950, representando um prejuízo bilionário para empresas de viagens, educação internacional e experiências.

É esperado o pior desempenho do setor desde 1950, representando um prejuízo bilionário para empresas de viagens, educação internacional e experiências.

O turismo vive seu momento mais desafiador nos últimos tempos, talvez o maior em termos de impacto econômicos globais.

Muitas empresas estão vivendo não só a crise no setor provocada pela COVID-19, como também crises internas de gestão e governança, ou seja, crise dentro da crise.

A CVC é um caso emblemático nesse sentido. Além da crise sanitária, problemas relacionados a fraudes contábeis entre 2015 e 2019 assombram o futuro da companhia.

Airbnb é outro caso dentro do turismo que foi e continua sendo duramente afetado pela crise. Em março de 2017, a empresa estava avaliada em US$ 31 bilhões, e passou a valer US$ 18 bilhões em abril 2020, uma queda de 42% em apenas 3 anos.

A companhia estava prestes a abrir capital em 2020, mas os planos foram frustrados por motivos óbvios. Além disso, em maio o Airbnb teve que demitir 25% dos funcionários como alternativa para o corte de custos, oferecendo apoio financeiro e planos de saúde para seus ex-funcionários. A empresa foi uma das que mais demitiu durante a pandemia do COVID-19:

Além desses casos em destaque, existem milhares de micro, pequenas e médias empresas que não resistiram à pressão da falta de clientes, aumentando assim os impactos negativos na economia e na vida de milhares de pessoas ligadas ao segmento.

Sem falar no que ainda virá, como por exemplo, o famoso réveillon do Rio de Janeiro que tem a possibilidade de ser cancelado e provavelmente o Carnaval também. Pense no impacto para a cidade e o turismo local em geral. Outros bilhões de reais com certeza.

Um estudo da FGV estima que a pandemia deve causar prejuízo de até R$ 161 bi ao turismo do Brasil entre 2020 e 2021, com perdas de 1,1 milhão de empregos nesse período. O mesmo estudo estima que o setor só retornará aos patamares anteriores à crise em meados de 2022. De acordo com a OMC (Organização Mundial do Comércio), o turismo internacional deve ter neste ano pior desempenho desde 1950, apesar de medidas de restrições terem sido tomadas por decisões de saúde pública.

Há muita especulação da retomada. Ninguém sabe ao certo quando teremos uma vacina e como será a reação das pessoas às férias no final de 2020 ou carnaval de 2021.

A forma com que o governo federal vem conduzindo a crise do coronavírus é uma das piores em todo o mundo e muito provavelmente vai prolongar a retomada no setor de turismo.

Muitos negacionistas sairão às ruas, óbvio, mas se a vacina ainda não estiver disponível, também fica claro que muita gente vai sambar em frente ao computador ou no hospital!

Enquanto a vacina não chegar no mercado, os números negativos continuarão aumentando para o Turismo. O que fazer então?

Para onde vai o turismo?

Em primeiro lugar, acreditamos que quando sair a vacina da COVID-19, acontecerá um efeito chicote nas demandas pelo turismo, ou seja, as passagens, pacotes e hospedagens vão bombar alguns meses após a vacina entrar no mercado.

Esse efeito chicote é um movimento natural, pois tudo que é represado, após ser liberado, tem um enorme volume no curto prazo, porém, nos médio e longo prazos, a coisa tende a se normalizar.

Em entrevista ao AAA Inovação, Guilherme Reischl, presidente da Abraseeio e Sócio-Diretor da Egali Intercâmbio, a comunicação entre clientes, agências de intercâmbio, companhias aéreas e escolas internacionais no começo da pandemia foi o principal problema. Segundo ele, a situação já foi regularizada e segue em bons termos, como é dito no trecho abaixo:

De acordo com Reischl, a retomada de setores será em etapas, começando por transportes rodoviários e aéreo, depois hotéis, viagens de negócios e por último os eventos.

Mas independente da forma, para entender o futuro do turismo, precisamos desenvolver uma visão bifocal: Um olho no curto prazo (pós-Coronavírus) e outro no longo prazo, onde moram as tendências.

O Turismo no Curto Prazo

No curto prazo, após a vacina do Coronavírus, com uma demanda represada e gigante, as pessoas vão comprar tudo o que tiver ao seu alcance, como por exemplo, pacotes, passagens, hospedagens, etc.

Com demanda alta, os preços tenderão a subir, não apenas pela força natural da oferta e demanda, mas também pela oportunidade que os estabelecimentos terão de recuperar parte dos prejuízos obtidos durante a pandemia.

Porém, a pandemia forçou a falência de vários players no mercado ou no mínimo debilitou milhares deles. No curto prazo, dentro do cenário pós-vacina, com demanda reprimida, a expectativa é uma avalanche de turistas saindo mundo afora.

Contudo, existem muitas variáveis que podem afetar esse cenário, visto que, de acordo com Arthur Igreja do AAA Inovação, o turismo é um dos setores mais prejudicados de toda a pandemia:

Outro fato inegável no curto prazo, principalmente no Brasil é que muita gente está com o caixa em baixa. A crise gerou milhões de desempregados e encerramento de empresas, criando turistas frustrados no curto prazo.

Mas o que eles farão, após a vacina?

Com dólar em níveis mais elevados e bolso machucado, o turista brasileiro provavelmente vai ficar por aqui mesmo. 

Todos os polos turísticos brasileiros deverão sentir uma alta na procura, mas destaco o Nordeste, pois certamente será um destino altamente desejável e demandado nesse cenário.

Turismo no Longo Prazo

O trecho abaixo foi retirado do site do Ministério do Turismo brasileiro e serve como uma ótima bússola para o futuro do turismo:

Organização Mundial do Turismo (OMT) divulgou, em maio/2020, um conjunto de diretrizes para ajudar o setor a retomar suas atividades de maneira segura e sustentável. 

O guia foi produzido em consulta com o Comitê Global de Crise do Turismo e tem como objetivo apoiar os governos e o setor privado a se recuperarem da crise, além de restaurar a confiança dos viajantes por meio de protocolos de segurança. 

O documento, que constata a redução de 60% a 80% no número de turistas internacionais em 2020 em decorrência da pandemia de COVID-19, traz orientações a respeito dos seguintes temas: 

As diretrizes destacam a importância de restaurar a confiança dos viajantes por meio de protocolos de segurança e proteção projetados para reduzir riscos em cada etapa da cadeia de valor do turismo. 

Esses protocolos incluem medidas como aferição de temperatura, uso de máscaras, distanciamento físico, limpeza periódica de ambientes e superfícies, além de fornecimento de kits de higiene para viagens mais seguras. 

As instruções da OMT também destacam a oportunidade de criar novas experiências de turismo, promovendo o turismo doméstico por meio de produtos segmentados e mais individualizados, focados no ecoturismo, cultura, esporte, turismo rural e rotas locais.”

Importante demais ter essa visão da OMT, principalmente o destaque acima: Criar novas experiências de turismo.

Novas Experiências de Turismo

Esse não é um conceito novo, mas certamente é uma tendência do setor. 

Um bom exemplo disso é o próprio Airbnb, que criou um menu dedicado à Experiências em seu site e aplicativo bem antes da pandemia.

Segundo o próprio site deles “as experiências são atividades desenvolvidas e guiadas por moradores locais inspiradores. Elas vão muito além dos passeios ou aulas típicos e fazem o hóspede mergulhar no mundo único de um anfitrião.”

Mais do que sair de casa e tirar fotos em outro lugar no mundo, as pessoas anseiam cada vez mais conexões diferentes e personalizadas, algo que só existe um lugar específico. 

E quem oferecer isso de forma única, personalizada, adequada ao público, tenderá a prosperar no segmento.

E falando em “adequado ao público”, que tal fazer uma viagem guiada, combinando roteiros turísticos, contatos locais de negócios, guia de compras selecionadas, experiências únicas, tudo especificamente desenhado para você, sua família ou equipe de trabalho?

Turismo Prime

Um conceito também trabalhado há bastante tempo no segmento, porém, que terá cada vez mais procura por ser personalizado e carregado de experiências e acessos que o turista comum não tem. 

É um processo de curadoria, onde gestores turísticos fazem parcerias locais para fomentar todo ecossistema.

Um exemplo: Você quer conhecer Dubai e além disso, tentar angariar algum negócio por lá, expandir seus negócios na região, etc. Por que não combinar as duas coisas? Por onde começar?

Então, o gestor turístico vai criar um roteiro para você conhecer e experienciar a cidade, visitar locais dentro e fora do roteiro tradicional, agendar reuniões com Sheiks e empresários locais do seu interesse, colocar do seu lado um bom tradutor, conseguir entrada em eventos privados e muito mais. Que tal essa viagem? Uma baita experiência não?

Pois então, isso fará cada vez mais sentido para as pessoas, não apenas comprar uma passagem aqui e reservar um hotel lá.

Turismo as a Service

Como falamos anteriormente, o turista brasileiro está com caixa em baixa, o dólar está alto, sem contar na preferência por “parcelas” ao invés de pagamentos à vista.

Esses fatores levarão cada vez mais gente para os clubes de assinatura de pacotes turísticos, como é o caso da inovadora RDC Viagens.

A empresa tornou todo o processo de viajar muito mais simples, ao integrar diversos players em pequenas parcelas mensais. Após aderir aos planos, basta planejar sua viagem e pronto, um mundo de opções de acordo com suas preferências, tudo numa plataforma única e acessível.

Esse tipo de integração entre agentes turísticos, tecnologia e o turista propriamente dito fará cada vez mais sentido no futuro do turismo.

E as viagens de negócios?

Sinceramente, acredito que as viagens de negócios jamais voltarão ao patamar anterior. Estimo uma queda de 20% a 30% nas viagens corporativas, mesmos após a vacina da COVID-19. 

As pessoas aprenderam fazer reuniões virtuais, economizar tempo e dinheiro com deslocamentos improdutivos. E de quebra, estão fazendo bem ao meio ambiente! As companhias aéreas e do setor de hospitalidade sofrerão esse impacto direto por conta das vídeo conferências, por motivos óbvios de redução de custos e produtividade. Por conta disso, terão de se reinventar.

Claro que o contato humano é importante e nunca será substituído, mas aquela viagem de negócios para ir até uma capital fazer reunião de 1 hora e voltar pra casa deixará de existir ou no mínimo será reduzida na proporção que estimei, 20% a 30%.

De acordo com Arthur Igreja e Guilherme Reischl, apesar dos novos comportamentos de home office, a retomada do setor de turismo deverá surpreender companhias aéreas e agências de intercâmbio:

Mas além das reuniões virtuais, alguns negócios estão passando por uma revolução digital, como é o caso da indústria cinematográfica.

A tecnologia dos vídeos games está entrando no mundo da produção de filmes no mundo pós Coronavírus. 

Já viu o nível de definição gráfica e inteligência sensorial que os games chegaram hoje? Dá só uma olhada nisso: Unreal Engine 5. É uma demonstração em tempo real da próxima geração em execução na PlayStation 5.

A indústria cinematográfica está trazendo esse nível de virtualização para a produção de filmes e tornando-a extremamente mais barata e digital. 

Não serão mais necessárias instalações gigantescas, viagens de centenas de pessoas para uma determinada localidade (olha o custo disso!). Será necessário apenas uma equipe bem reduzida para capturar o ambiente e trazê-lo de volta para o estúdio digital onde tudo será colocado em perspectiva.

Agora tudo pode ser feito dentro do estúdio, de forma rápida, barata e com apelo visual extremamente realístico. Duvida disso? Recomendo que assista este documentário rápido da CNBC em algum momento. É impressionante! 

Outras empresas no sentido da “transformação covidigital” são as de serviços profissionais como consultorias, agências, órgãos federais, jornalismo, entre outras. Elas sempre trabalharam com informação e agora tudo ficou muito mais rápido e digital, não sendo mais necessárias tantas viagens para a execução destes serviços.

Com esse prejuízo projetado, as companhias aéreas, hotéis, aluguel de veículos, entre outros, terão de se reinventar, ou melhor, reconstruir seus modelos de negócios.

Turismo Virtual?

A Prefeitura do Rio disse que não fará réveillon no modelo atual e estuda comemoração virtual sem a presença de público.

Segundo o artigo acima, “A ideia é elaborar um projeto “sem presença direta de público, em um modelo virtual, onde poderemos atingir o público pela TV e pelas plataformas digitais”. O objetivo, ainda de acordo com a Riotur, é preservar “prioritariamente a segurança das pessoas”.

Comemoração virtual? Será que isso vai funcionar? 

Sim, claro que vai funcionar e a ação é preventiva, mas certamente não é o futuro do turismo. Até poderemos fazer uso de plataformas digitais e realidade virtual para aproximar distâncias, mas a natureza humana é mais forte e no caso do turismo, certamente ninguém vai querer pagar muito por esse tipo de experiência.

Turismo: Experiências 

Mais do que ver o futuro do turismo apenas como dados e estatísticas, seja no Brasil ou no mundo, é preciso enxergá-lo como uma necessidade humana. 

Pergunte para qualquer pessoa sobre seus sonhos de vida e certamente o turismo estará lá nos top 3 desejos, ano após ano.

Na essência, existe uma força que nos impele a buscar conhecer outras culturas, lugares, sabores, texturas e principalmente, Experiências. Falarei mais dela à frente, pois será cada vez mais importante no contexto do turismo.

Resumo

Abaixo, mais um pequeno trecho do site do Ministério do Turismo, que nos dá uma boa perspectiva dos rumos desse setor no curto e médio prazos:

O Ministério do Turismo vem desenvolvendo, desde o início da pandemia, ações para minimizar o impacto no setor e um plano para recuperar o turismo de forma segura. Neste sentido, o órgão criou a campanha “Não cancele, remarque!”, que busca proporcionar a manutenção de pacotes e serviços contratados e garantir a preservação de empregos. 

O órgão já trabalha uma série de ações para o pós-pandemia, articuladas em conjunto com os setores público e privado. Além de preparar uma campanha de estímulo a viagens domésticas, o órgão pretende estruturar o turismo rodoviário, a partir da integração com outros modais de transporte, facilitando a realização de roteiros integrados por viajantes.”

Com todo esse lockdown mundo afora, as pessoas valorizarão cada vez mais as experiências ao vivo, pessoais e locais.

O mundo está diferente agora, mas acredito que as pessoas continuarão sonhando em viajar todos os anos. É natural do ser humano.

Essas tendências criam no longo prazo, uma busca cada vez maior por turismo de qualidade, personalizado e acessível.

Forte abraço

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