COVID-19: O que podemos desaprender para nos adaptarmos melhor ao que está acontecendo?

COVID-19: O que podemos desaprender para nos adaptarmos melhor ao que está acontecendo?

COVID-19: O que podemos desaprender para nos adaptarmos melhor ao que está acontecendo?

Recebi semana passada um telefonema muito bacana do Gustavo Guertler, CEO da Editora Belas Letras, me contanto que está acontecendo uma aceleração nas vendas do meu livro Desaprenda – como se abrir para o novo pode nos levar mais longe. Reexaminando vários trechos e frases que escrevi no ano passado, me impressionei como elas acabaram tendo uma relação direta, quase antecipatória, do que estamos vivendo hoje.

Então, seguindo o mesmo formato de meu primeiro artigo “Como o empreendedor brasileiro pode aprender com grandes redes e marcas dos EUA?“, me motivei em produzir 10 vídeos curtos sobre pontos específicos do livro e sua relação com o tempo em que estamos vivendo.

Espero com isso dar Insights para que sua empresa se instrumentalize para repensar rapidamente alguns pontos da estratégia, e para que nós mesmos tenhamos mais inspiração e foco para passar o melhor possível por isso.

Quais os principais temas do COVID-19 que hoje nos estimulam a desaprender e reaprender? 

A incerteza é a bola da vez: existe um jeito produtivo de encarar a incerteza, que é não lutar contra ela. Aceitar que ela existe. Nassim Taleb costuma dizer que quanto mais baixo o risco, mais temos que pagar por ele. Então vale a pena corrermos alguns riscos.

Do ponto de vista atual, dizer que o mundo é VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) é “chover no molhado”: o que está acontecendo nos mostra que, quanto mais nos dispusermos a aceitar as incertezas da vida, mais rapidamente nos reposicionaremos quando elas nos derem seus sinais.

Não importa a sua idade, você vai ter que aprender de novo: a vida sempre vai dar um jeito de mostrar a você que é hora de desaprender e reaprender algo, e agora ela está fazendo justamente isso.

E não importa se você é estudante ou empreendedor, você está tendo que aprender de novo: a ficar sem aulas em sua escola, a trabalhar com os filhos se movendo em volta de você, a ficar sem ver seus netos.

Dinheiro vai e vem. Tempo só vai: mais do que uma eventual queda de receita de empresas ou mesmo de renda pessoal, o Coronavírus está mexendo com nosso tempo.

Nos vimos de repente presos em casa, e muito daquilo que previmos para nossos projetos profissionais terá que esperar. Ou seja, a situação não bagunça apenas com dinheiro, e sim com o tempo. Nos vemos novamente finitos, assustados, temendo perder o que temos de mais precioso.

Precisamos no entanto entender que, na verdade, não estamos perdendo, e sim ganhando tempo agora para não ter que perder mais tempo depois.

Be Water, my friend: em uma situação como esta, será que o mais interessante não é deixar fluir? Impossível aí não lembrar dos ensinamentos de Bruce Lee: a água não tem formatos e nem contornos definidos.

Quando ela entra em um copo, se torna o copo. Quando entra em uma chaleira, se torna a chaleira. Quando entra em uma garrafa, se torna a garrafa. Ou seja, a água tem esta maravilhosa capacidade de adaptação. E como estamos precisando disso agora.

Não pergunte apenas para o Google: estamos acostumados a perguntar tudo para o Google, e de repente até ele ficou sem resposta. Claro, nem ele tem as respostas para tudo. Isso nos lembra da importância da inteligência não artificial (humana), conversar mais com pessoas — neste momento, por exemplo, médicos e cientistas — inclusive com nossos clientes, para juntos encontrarmos soluções para um dilema completamente novo.

Deixe o Waze ligado: todos nós gostaríamos de ter um Waze diferente. Um aplicativo que nos orientasse o que fazer quando a encruzilhada batesse na porta, quando a decisão fosse determinante, quando aquela situação nos deixasse sem fala. Digitaríamos nosso dilema, e ele nos responderia: diga isso, faça isso, vá por aqui. Mas já temos, dentro de nós, esse “aplicativo mágico”.

Só que nos esquecemos de deixá-lo ligado — nos escutando mais, aceitando que nem sempre dá para ter certeza, lembrando que inteligência é o que a gente faz justamente quando não tem ideia do que fazer. Esta é a hora de confiar na intuição.

O importante é não competir: para resolver problemas, é preciso conversar sobre eles e o COVID-19 é um daqueles dilemas que o mundo recebeu e que somente podem ser solucionados em conjunto. No entanto, o mundo segue competindo para ver quem tem “menos mortes” — e, muitas vezes, cooperar é mais importante que competir. É preciso que os países troquem experiências, acertos e erros, façam benchmarking, intercambiem recursos e habilidades.

Sairemos desta, mas com real cooperação poderíamos estar saindo mais rapidamente.

Abrace o extraordinário: o extraordinário é aquilo que nos tira da zona de conforto. Aquilo que sai do ambiente de nossas certezas padrões e, para o bem ou para o mal, vira o nosso mundo de cabeça para baixo. E só existe uma coisa que não podemos fazer com relação ao extraordinário: negá-lo.

Quanto antes a gente aceita, antes a gente ganha a calma necessária para agir. O coronavírus nos força a acelerarmos algumas mudanças que já estavam por aí, e principalmente a fazermos com as próprias mãos: sabemos que nada cai do céu.

Este é momento de transformação. De mudar processos e se preparar para o retorno. De entender que muito da velocidade de retomada dependerá da gente. Mas principalmente, de começar aceitando o que está acontecendo. De parar de lutar contra o que já está aí e focar a energia na mudança.

A hora da autonomia: de repente, ficamos ‘sem chefes’. Trabalhando de home office, estamos como aquele pai que dava uma entrevista na BBC e teve seu escritório invadido pelas crianças. E sabe o que é mais interessante? Estamos gostando disso!

Viveremos, daqui para frente, um cenário irreversível no que diz respeito ao binômio liberdade + responsabilidade. E reforçaremos, com isso, uma cultura que pode alavancar toda a criatividade nos negócios. Já sabemos, hoje, identificar os profissionais que, mesmo de casa, são capazes de dar respostas à altura dos desafios.

E é bom que saibamos cultivá-los; até porque, quando for hora de acelerar a retomada, esses serão justamente os profissionais mais disputados, e que não toparão retroceder a um “normal” que não existirá mais.

O ser humano desaparecerá se não desaprender: neste último vídeo da série, não quero fazer um alarme, mas sim um chamado. A situação atual exige muito de nós, mas também nos dá uma grande oportunidade.

Somos estimulados a rever tudo, como nunca antes nossa geração foi. Provocar a própria obsolescência é buscar contínua renovação, tanto do ponto de vista corporativo quando pessoal. David Bowie fez isso durante toda a sua carreira, recriando personagens e conceitos bem quando as vendas estavam em alta.

O coronavírus tirou todos nós da zona de conforto e isso pode ser uma ótima oportunidade para desaprender e aprender de novo.

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