Sintomas que o Coronavírus está gerando no mercado de Fusões e Aquisições

Frente aos impactos da pandemia na economia mundial, empresas podem recorrer aos seus parceiros em busca de sobrevivência através de fusões e aquisições.

Frente aos impactos da pandemia na economia mundial, empresas podem recorrer aos seus parceiros em busca de sobrevivência através de fusões e aquisições.

As previsões para a economia em 2020, feitas pelo Banco Central e grandes bancos já nos dão um grande alerta. Isso com os dados que temos em mãos até agora. É possível que a curva de contágio do vírus aumente ou venha uma segunda onda e aí, só Deus sabe como o Brasil e o mundo serão impactados.

Fato é que, o coronavírus trouxe um grau muito grande de incerteza nos mercados, resultando na busca por recursos que ajudem na sobrevivência de pequenos, médios e grandes negócios. Uma dessas alternativas é o mercado de Fusões e Aquisições.

Valuations corrigidos após supervalorização

Diante deste cenário, diversos deals estão sendo interrompidos ou cancelados, principalmente aqueles em estágio inicial, o que é normal devido à volatilidade que estamos vivendo.

Muitas empresas vão sofrer impactos negativos e com isso, uma queda em seus valuations.

Se olharmos de forma ampla e analisarmos a capitalização das empresas, chagamos à conclusão de que, antes da crise, elas estavam supervalorizadas. O gráfico abaixo foi criado por ninguém menos que Warren Buffett e mostra a relação entre o PIB dos EUA e valor total das empresas listadas em bolsa:

TMC = Total Market Cap = Valor Total de Mercado / GDP = Gross Domestic Product = PIB

No gráfico, valores acima de 90% já indicam supervalorização das empresas. Em 30 de Janeiro de 2020 estava 151%. E dois meses depois, desceu para 120%. Ainda sim supervalorizado, porém, corrigido pela crise.

Aplicando esse mesmo indicador aqui no Brasil, no final de fevereiro/2020 estava em 60% e agora, começo de abril, 42%. 

Para o mercado de M&A isso pode ser um impulso, visto que os preços tendem a ficar mais justos para os investidores, tanto financeiros quanto estratégicos.

Fusões e Aquisições: M&A Deals em 2018 e 2019

Ainda é cedo para saber o real impacto nos negócios (deals) em Fusões e Aquisições (Mergers and Acquisitons – M&A), pois os resultados que foram percebidos agora no 1T20 são frutos de 12, 18 a 24 meses de trabalho anterior. 

Ciclos de M&A são longos mesmo, por isso, o que estamos enfrentando agora, provavelmente vai se refletir mais adiante. 

Perceba abaixo, os ciclos passados de fusões e aquisições e recessões econômicas (áreas em cinza). O volume total e o valor dos negócios das adquirentes americanas caíram substancialmente durante as recentes desacelerações, levando anos para se recuperar.

Fonte: PwC

Oportunidades em Fusões

Já que o momento é ruim devido às incertezas, a grande tacada tem sido realizar fusões entre empresas, pois esse tipo de transação geralmente não envolve dispêndio de capital.

De forma simples, Fusão é um processo de união entre duas ou mais empresas, com o objetivo de criar um terceiro negócio maior e mais saudável.

Isso acontece porque somam-se os faturamentos, porém não todas as despesas, gerando assim um resultado líquido maior do que as empresas teriam separadamente. A isso damos o nome de Sinergia, ou seja, 1 + 1 = 3 (ou mais).

Empresas que estão focadas na continuidade devem olhar essa opção como estratégia de sobrevivência e diferenciação, para colher diferenciais competitivos e alavancagem saudável.

E além das fusões, veremos com mais intensidade as reestruturações financeiras como pauta obrigatória dos CFOs das companhias.

 

Oportunidades em Aquisições

Não precisamos ir muito longe para entender que, após uma crise, os preços dos ativos caem, criando assim, uma janela de oportunidade, ou melhor, uma grande liquidação de empresas de qualidade.

É como ir numa loja de importados e ver aquele carro dos sonhos com 40%, 50% de desconto. E quanto menor é o preço de compra, por um ativo de qualidade, maiores são os retornos a médio e longo prazo

A crise afetou todo o mercado de Fusões e Aquisições, tanto empresas listadas em bolsa, quanto privadas, o que abriu uma grande oportunidade para fundos de investimento e players globais reavaliarem suas teses de investimento e voltarem às planilhas para aqueles deals que lhes eram desejáveis, porém estavam fora do radar devido à preço.

No final de 2019, os fundos de Private Equity US estavam com caixa para investimentos (dry powder) na ordem de US$ 2,5 trilhões e as grandes empresas, com US$ 2,4 trilhões. 

Se colocarmos esse caminhão de dinheiro num jogo onde estão aplicadas as menores taxas de juros e impostos das últimas décadas, então podemos concluir que poderemos ver novos e bons negócios mais adiante, embora a decisão de investimento neste momento seja contraintuitiva.

 

Setores e Setores

Os setores mais quentes em Fusões e Aquisições nos últimos anos foram Saúde, Educação e Tecnologia.

Certamente estes vão continuar em alta para os próximos anos, porém, outros terão recuperação moderada ou lenta, conforme dados da Bain&Company, veja:

Conclusão

Não sabemos o real tamanho dos impactos, por isso, o governo precisa parar com brigas políticas e criar uma unicidade de comando, nos moldes dos países desenvolvidos. 

Todas as esferas públicas precisam estar em sintonia, para que a crise seja gerenciada e a população instruída, não polarizada.

Não há como vencer uma guerra sem uma central de inteligência bem alinhada com toda tropa.

De qualquer forma, o governo federal já reduziu drasticamente a taxa de juros, anunciou pacote de R$ 750 bilhões, possui mais de US$ 300 bilhões em reservas cambiais e a taxa de câmbio depreciada favorece os investimentos estrangeiros.

Por isso e apesar das incertezas, é provável que o segundo semestre tenha uma retomada, gerando o efeito chicote, causado pela repressão da demanda no 1T20, bem como pelo volume de capital em poder dos fundos de investimentos e grandes empresas.

Portanto, quando as nuvens negras passarem, é mais provável que a retomada dos investimentos em fusões e aquisições, tanto internos e externos, venham com mais força e agilidade.

Ou seja, prepare-se! As decisões de hoje vão definir o valor do seu negócio amanhã.

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