Aversão ao Risco: Entendendo para Superar Excessos

Tempos modernos. Só que dessa vez, os humanos devem se afastar de atividades super focadas e repetitivas se quiserem sobreviver na nova realidade profissional. Num mundo cada vez mais automatizado, com máquinas engenhosas e até mesmo inteligentes, o caminho do destaque e do alto desempenho deve seguir por novas direções, que envolvem principalmente a criatividade.

Pensamentos simplistas, cristalizados em conceitos passados e mesmo mentes muito analíticas, podem ser substituídos por algoritmos cada vez mais eficazes. Mas a capacidade de interligar ideias de áreas distintas, somado ao repertório teórico já adquirido e a visão estratégica, podem determinar o novo super profissional ou empreendedor do futuro.

O potencial de imaginação, a habilidade de formular novas perguntas, e a sabedoria de integrar conceitos multidisciplinares são valiosos e estimados em qualquer empresa que busque se destacar da concorrência. Segundo um relatório de 2019 do LinkedIn, a característica mais buscada nos profissionais a serem contratados pelas empresas foi, não por acaso, a criatividade. Talentos para inovar e pensar com ousadia e originalidade, esse é o novo lema.

 

Inovação & Criatividade

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Associar novas ideias, trabalhar de forma criativa e tornar as novidades em realidade só é possível com um ingrediente fundamental: coragem para tomar riscos. Toda novidade não foi testada antes, e portanto, as chances de sucesso e fracasso caminham lado a lado. 

Logo, são muitos os entraves nesse processo criativo e inovador, uma vez que o ser humano é extremamente avesso ao risco. A biologia evolutiva e a economia comportamental trazem muitas explicações interessantes para jogarmos luz nesse obstáculo, que muitas vezes impede que boas ideias se tornem efetivamente novidades palpáveis. 

Um conceito chave para a compreensão da aversão ao risco é a valoração maior da perda do que do ganho. Em economês, dizemos que:

Temos retornos marginais decrescentes para ganhos adicionais em riqueza, e a inclinação da curva de retornos marginais para perdas é da ordem de duas vezes maior.

Traduzindo: odiamos cerca de 2x mais uma perda do que amamos um ganho.

 

Evolução Humana

Somos excessivamente apegados ao que já temos, quando comparado ao que podemos conquistar, e além disso, somos mais atentos a ameaças do que a oportunidades. Ou seja, somos animais territorialistas e pessimistas. De fato, a taxa de sucesso de animais da natureza que defendem seu território é bastante elevada. A bravura da defesa deve ser duas vezes maior do que a do ataque, se a inclinação da curva de aversão à perda se transpor a essas batalhas.

Se olharmos pelo viés histórico da evolução biológica, vemos que desde os primeiros seres humanos, os que eram mais atentos a ameaças do que a oportunidades, e mais do que isso, mais pessimistas do que otimistas, tinham maiores chances de sobreviver e se reproduzir. Ao menor sinal de movimento e barulho no meio das moitas, os humanos que ficavam alertas e corriam, mesmo que fosse apenas uma brisa, eram os mais premiados pelas leis da evolução. 

 Apesar de não ter sido economista, e tão pouco cientista evolucionário, William Shakespeare conhecia bem os resultados ruins advindos da alta inclinação da curva de aversão ao risco para perdas, e tem uma frase que resume maravilhosamente bem essa tendência humana: 

“As dúvidas são  traidoras, e nos fazem perder, com frequência, o que poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar” – William Shakespeare

 

Como posso superar a dificuldade de assumir riscos?

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Como já vimos, o mundo de hoje valoriza mais do que nunca a capacidade de inovar e de colocar em prática novidades, mesmo com todos os riscos envolvidos. Uma forma de atenuar esse processo que pode ser doloroso pelo medo das perdas é seguir um pouco do aprendizado de grandes mentes inovadoras do nosso tempo, como Jeff Bezos, Sir Richard Branson, Elon Musk, Larry Page entre tantos outros.

Super empreendedores que estão sempre dispostos a correr os riscos inerentes aos processos de lançamento de novos produtos e serviços, mas nem por isso se comportam de forma imprudente ou desordenada. Existem estratégias claras para lidar com as incertezas e riscos, vamos enumerar algumas:

 

Elon Musk, CEO da Tesla, diz que a incerteza no caminho o motiva, pois o deixa sempre alerta. Isso faz com que seu radar esteja sempre captando todas as informações do mercado, para que consiga desviar das ameaças e ao mesmo tempo consiga enxergar os caminhos mais promissores.

Segundo ele, o futuro é sempre probabilístico e não determinístico, e desta forma, saber ler os diversos fluxos e suas respectivas forças e direções é o que permite enxergar além. 

Tarefa: busque uma motivação para avançar de forma sempre reflexiva, aproveite bem o seu conhecimento adquirido de cada experiência vivida. Sendo assim, pense no longo prazo e no final da jornada é sempre muito importante também.

 

Larry Page, um dos fundadores do Google, tem uma forte visão estratégica focada em resultados e lucratividade e portanto sempre usa de clareza de passos, mesmo que no começo pequenos, pensando sempre grande lá na frente. O planejamento é fundamental.

Planejamento cuidadoso, com passos e metas claras, dá mais confiança na construção de um terreno de curto prazo, para que os próximos passos sejam dados na direção de objetivos mais ousados.

Aliás, como já dizia Abraham Lincoln:

“Me dêem 6 horas para cortar uma árvore e passarei a primeira hora afiando o machado”.

 

Richard Branson, fundador da Virgin e investidor serial, tem duas sacadas muito instrutivas para auxiliar uma postura sóbria frente aos riscos: análise crítica dos fatos, sem otimismo infundado e ter uma rota de saída caso as coisas não funcionem.

Os famosos “Planos Bs”, quando bem pensados com antecedência podem dar o empurrão necessário na coragem de tomar novos rumos, assumir riscos de forma calculada, sabendo que é possível recomeçar caso as coisas saiam diferentes do esperado. Avaliar a situação de forma criteriosa a priori, com mapeamento das oportunidades e riscos, também auxilia muito a ter confiança embasada, sem otimismo irreal.

 

Jeff Bezos, fundador da Amazon, prega que os empresários sejam obcecados pelos clientes. Dessa forma é impossível se desviar do caminho que trará resultados pois o cliente é a fonte fundamental de receita e a razão de qualquer negócio existir.

E se a nova ideia não tiver boa aderência dos clientes e estivermos próximos deles para perceber isso, as falhas acontecem rapidamente e os prejuízos são menores. É a famosa máxima: fracasse rápido e parta pra próxima (fail fast fail forward).

É evidente que os desafios de ter uma postura mais criativa e inovadora, disposta a arcar com riscos são muito grandes. A realidade mudou e passou a exigir essas novas características de forma abrupta. Apesar de não sermos tão bem projetados a lidar com as ameaças e possibilidades de perdas, não nos resta alternativa se não compreender essa tendência e traçar as melhores estratégias que nos empurrem numa direção mais emocionante e promissora.

 

O que podemos aprender com isso?

Mesmo que os primeiros passos sejam dados em sapatos novos e desconfortáveis, segurança demais e águas calmas não fazem nem bons marinheiros nem profissionais versáteis e criativos. Associar novas ideias, trabalhar de forma criativa e tornar as novidades em realidade só é possível com um ingrediente fundamental: coragem para tomar riscos. Toda novidade não foi testada antes, e portanto, as chances de sucesso e fracasso caminham lado a lado.

Logo, são muitos os entraves nesse processo de ser criativo e inovador, uma vez que o ser humano é extremamente avesso ao risco. A biologia evolutiva e a economia comportamental trazem muitas explicações interessantes para jogarmos luz nesse obstáculo, que muitas vezes impede que boas ideias se tornem efetivamente novidades palpáveis.

Nas próximas semanas irei abordar sobre: Propensão ao risco após perdas, Pensamento Criativo e Economia Comportamental nessa série de artigos exclusiva para o AAA Inovação. Até a próxima!

Clique aqui para conferir o episódio 1 dessa série de artigos: Lições para Pequenos e Médios Empresários sobreviverem no novo mundo

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