O que é o SXSWEdu?
O SXSW EDU é uma área do maior festival de inovação do mundo, o South by Southwest® (SXSW®). Reconhecido internacionalmente como o encontro de convergência para profissionais criativos, o SXSW EDU estende o apoio do SXSW à arte do engajamento para incluir as verdadeiras estrelas da sociedade: educadores!
Este ano o SXSW EDU tem 11 pilares principais:
- Acessibilidade e inclusão.
- Artes e Storytelling.
- Negócios e investimentos.
- Iniciativas Comunitárias.
- Tecnologia Emergente.
- Equidade e Justiça.
- Impacto global.
- Política e Engajamento Civil.
- Prática e Pedagogia.
- Inteligência Emocional e bem-estar.
- Trabalho reimaginado.
O que aprendemos com o SXSW Edu?
É basicamente impossível ver todas as palestras, são centenas! O que eu vou trazer aqui são os principais aprendizados das palestras transmitidas ao vivo ao longo dos dias. Vamos lá!
1. Palestra: Ciência do aprendizado com Pooja Agarwal
Essa palestra foi, de longe, a que mais me fascinou. Pooja Agarwal é Cientista Cognitiva e Autora, sua palestra foi fenomenal. O tipo de pessoa que você quer ouvir falar mais e mais, tanto pelo conteúdo quanto pelo carisma.
Principais aprendizados:
O aprendizado acontece quando expressamos informações, conteúdos e conhecimentos, não quando os consumimos.
- Passamos uma vida com conteúdo sendo empurrado para nós de todas as formas e, ao longo da vida, criamos o senso de que aprender significa ler, ouvir, assistir – quando, na verdade, o aprendizado se dá na nossa capacidade de acessarmos as informações e compartilhá-las.
- Ela traz a Retrieval Practice (“prática do resgate” na melhor tradução que consegui chegar) como seu método para ajudar as crianças a lembrarem o que aprenderam e explicar o que entenderam.
- O mesmo deve ser feito na vida adulta. Já dizia Richard Feynman sobre aprendizado: tente explicar o que aprendeu para uma criança de 12 anos. Só esse tipo de exercício te fará entender que também não entendeu.
As pesquisas mostram que “Retrieval Practice” é extremamente eficiente:
- Do ensino infantil a graduação;
- Amplas áreas de estudo (história a medicina);
- Retenção de longo prazo;
- Diferentes estágios de desenvolvimento;
- Ações em prol do clima nas escolas.
Um painel que debateu uma temática longe de ser apresentada nas escolas: como a educação pode ajudar a reverter ou reduzir o desastre climático. Basicamente o painel trouxe mais questionamentos do que soluções, algumas das quais:
- Porque damos atenção a eventos como queimadas, tornados e enchentes, mas não tratamos o próprio aquecimento global como um evento, com medidas emergenciais para reduzir seus impactos?
- Porque as crianças não estão recebendo conteúdos que as fazem entender que esse será o principal desafio de suas gerações, e que precisarão endereçá-los?
- Como reduzir o impacto de toda cadeia educacional na emissão de carbono? Desde alimentação, transporte, infraestrutura e práticas?
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2. Comentário: Nota importante sobre o meio de comunicação
Todas as propagandas eram no melhor estilo TikToker, Instagramer viralizável.
Isso ainda não foi falado por lá, mas ao meu ver deixa algo muito claro: a educação será cada vez mais próxima do que vemos nas principais plataformas de entretenimento:
- Conteúdos rápidos.
- Copys extremamente fortes.
- Conteúdos divertidos, que entretêm.
- Educação contextual (sempre conectado com parte da realidade da audiência)
3. Painel: HBCUs e o futuro do trabalho
HBCUs é uma sigla que significa “Historically Black Colleges and Universities”. Ou, em tradução livre, “universidades e faculdades historicamente negras”. De acordo com o ThoughtCo, essas instituições, via de regra, foram fundadas com o objetivo de dar mais oportunidades de ensino superior a estudantes afro–americanos.
Este foi um painel com líderes diversas HBCUs, trazendo o tópico de empregabilidade, futuro do trabalho e aprendizado à tona. Os principais takeaways da palestra foram:
- Enquanto o ensino a distância foi prejudicial para a maioria das Universidades Tradicionais, nas HBSUs o efeito foi oposto: o ensino a distância propiciou que mais pessoas tivessem acesso a Universidade e conseguissem integrar sua vida acadêmica com seu trabalho e obrigações de casa.
- Assim como vejo no Brasil através da @somosprofissas e @potencias.negras, após o caso do George Floyd e outros escândalos que escancararam o racismo nas instituições, as empresas estão loucamente em cima das HSBUs buscando talentos negros para suas empresas.
- A posição das HSBUs é firme: não estamos vendendo talentos negros para suprir seus objetivos de Marketing, mas sim estamos aqui para construir relacionamentos de longo prazo e conectar as empresas com todas as pessoas negras, independente das metas de Diversidade e Inclusão. Como Michael Sorrel, da Paul Quinn College citou: “Não precisamos de pena, precisamos de parceria.”
4. Palestra: O poder (e os limites) dos dados
Um talk interessante, apesar de eu ter julgado pouco prático, sobre o que podemos e não podemos usar os dados para. Detalhe para a Palestrante: Emily Oster é PhD e professora em Economia e é influenciadora e autora nos temas de gravidez e maternidade. Acho incrível como, cada vez mais, as pessoas tem espaço para serem múltiplas em suas profissões e carreiras, assim como em suas vidas.
Principais aprendizados:
- Precisamos não só desenvolver pensamento científico como desenvolver senso crítico para avaliar pesquisas científicas.
- Pesquisas são uma tentativa de demonstrar/representar a realidade, mas obviamente que elas são falhas. Precisamos fazer perguntas melhores, como:
- De onde vieram os dados?
- Quais foram os parâmetros da pesquisa?
- Que tipo de pesquisa poderia contradizer este resultado?
- Achei fascinante uma pergunta feita pela platéia, que representa muito do pensamento atual: “Como posso confiar na ciência, se ela muda toda hora?”
- E a resposta esta justamente em entender que a ciência é o melhor método para representar uma fotografia da realidade, mas ela não é a realidade.
- Um dos motivos para confiar na ciência é justamente o fato de ela estar em constante mudança e aberta a questionamentos. Inclusive, o método científico é feito para que as respostas as quais ele conduz sejam questionadas e derrubadas.
- O melhor motivo para confiar em alguém é que ela está em constante atualização, fazendo jus as mudanças no mundo, não o oposto.
5. Painel: Infraestrutura e futuro da P&D em Educação
Inovação científica na educação anda a passos de formiga, essa foi a afirmação que abriu o debate entre Angela Duckworth, Mary Murphy, Mark Schneider e Kumar Garg, empreendedores, pesquisadores e professores na área educacional.
O debate também era sobre um tema importante e que também vemos pouco no Brasil: por que a educação evolui tão lentamente?
Áreas como a biomedicina e engenharia evoluem em um ano o que a educação leva dez para fazer – prova disso é que nossos métodos de ensino são basicamente os mesmos há 100 anos.
Este foi mais um debate que mais apresentou problemas do que propôs soluções, entre elas:
- Não sabemos como as crianças se sentem nas escolas! Por quê? Porque não temos cientistas o suficiente pesquisando sobre isso e, quando estão, as pesquisas estão sendo longas e não acompanham o ritmo da mudança.
- Quem está desenvolvendo as pesquisas e teorias de ensino são sempre as mesmas pessoas e mesmo perfil de pessoa. Pouco se traz de vieses realmente diferentes para pesquisas e teorias de ensino.
- Por que não lidamos com pesquisas de educação como startups lidam com hipóteses? Failing fast!
- Porque não lidamos com pesquisas e desenvolvimento na educação como a Inovação Aberta? Conectando professores do mundo inteiro e aprendendo entre eles? Como aprender em tempo real com professores que tentam estratégias de ensino diferentes?
6. Painel: Quando as guerras culturais chegam nas escolas
Polarização! Assim como no Brasil, os Estados Unidos enfrenta uma onda de polarização entre esquerda e direita, conservadorismo e progressismo e ondas cada vez mais evidentes de racismo, machismo e homofobia.
O debate do painel trouxe à tona a questão de inclusão e representatividade, onde alunos de grupos sub-representados sofrem opressão nas escolas e não encontram caminhos para expressar suas vozes em várias regiões do país.
Mais recentemente vários livros (Especialmente o livro All Boys Aren’t Blue, de George M. Johnson) que continham trechos ou temas explicitando representatividade de pessoas LGBTQIA+ e negras foram removidos de bibliotecas públicas e privadas com a suposta intenção de “preservar as crianças” de assuntos relacionados a racismo, homofobia, preconceito, abuso (psicológico e físico) e educação sexual.
As discussões de gênero, orientação sexual e raça estão cada vez mais inflamadas nos Estados Unidos, assim como no Brasil, especialmente pelo acesso facilitado a mídias sociais, que tendem a inflamar discussões.
Uma frase extremamente marcante foi a do autor George M. Johnson, que ao contar a história de ter seu livro proibido em diversos estados, afirmou:
“É triste o fato de que aos 18 anos jovens são convocados para Guerra, para matar outras pessoas, mas ainda são impedidos de discutir temáticas supostamente sensíveis para grupos conservadores.”
7. Palestra: Desinformação nas mídias sociais: o que pode ser feito?
Uma das palestra mais incríveis até agora, com o empreendedor e influenciador ucraniano Max Klymenko, contando algumas das suas estratégias de produção de conteúdo para informar e combater a desinformação em temáticas sensíveis como vacinação e a guerra.
Ele fundador da agência britânica klym&co e seus clientes incluem o próprio TikTok, o Google e a ONU. Segundo Max, temos que dominar tanto a linguagem das redes sociais quanto as pessoas mal intencionadas que dominam exércitos de bots para popular informações falsas.
Foram apresentados vários dados e estratégias usadas para combater a desinformação relacionada a eficácia da vacina, e como foi necessário treinar cientistas e governantes a criarem vídeos virais no TikTok e Instagram, para que, além de ter o conhecimento correto, tivessem capacidade de passá-los adiante de forma persuasiva.
A palestra se tornou, repentinamente, mais emocionante, quando Max perguntou “que dia é hoje” para o público. Naturalmente as pessoas responderam a data da palestra, o dia da semana e até “Dia Internacional da Mulher”, como realmente era (08/03). Após ouvir as respostas, Max afirma: hoje é o 14º dia de Guerra, da invasão da Rússia ao eu país, Ucrânia.
Após essa frase, Max entrou numa sequência de slides mostrando a desinformação gerada pela Rússia e seus bots e como ele e sua agência tem usado táticas de Marketing de Influência para gerar conteúdos impactantes com informações reais sobre a Guerra e o que ambos os povos tem sofrido. Para finalizar, Max faz um apelo para que qualquer pessoa, antes de compartilhar qualquer informação, tenha uma simples ação: pausar e refletir, por um minuto, se aquilo é o certo a se fazer.
8. Palestra: Moonshots: Ideias ousadas para o futuro do Aprendizado
A pandemia nos obrigou a repensar os modelos de educação. Agora, o projeto Remake Learning, de Tyler Samstag, facilita grupos, empresas e escolas que pensam na educação ideal para um futuro de 10 a 20 anos. O projeto já conta com mais de 1000 pessoas envolvidas na cidade de Pittsburgh, entre educadores, inovadores, empreendedores, alunos e absolutamente qualquer pessoa que quiser participar, para explorar três grandes frentes:
- O que e como as pessoas irão aprender em 10 anos?
- Como testar essas hipóteses?
- Como aplicar as ideias hoje, na comunidade local?
Assim como diversos outros projetos e debates expostos no SXSW, o Moonshots for Learning coloca a equidade no centro dos debates. O mais interessante deste, é que ele é extremamente horizontalizado, no modelo P2P (Peer to Peer), tornando todos protagonistas da colaboração.
A grande maioria dos projetos tenta resolver as seguintes questões:
- Como colocar o indivíduo (e não o futuro profissional) no centro do aprendizado?
- Como proporcionar flexibilidade de tempo e espaço para os alunos?
- Como tornar a educação menos burocrática? Se livrando de grades, notas e personalizando o aprendizado?
Refleti sobre o quanto, para a maior parte da sociedade, é difícil planejar ou mesmo sonhar para um futuro de 10 ou 20 anos, já que na maioria das vezes estamos resolvendo problemas e questões mais urgentes (às vezes que deveriam ter sido resolvidos há 10 anos!). A pergunta que fica é: como construir ideias ousadas de educação para nossa comunidade local?
9. Palestra: Engajando estudantes com eSports
Outro tema muito falado nesta edição do SXSW foi o uso de Games para o aprendizado. A palestra que mais me chamou atenção foi a do Erik Woning, que conta como estão levando para as escolas (no contraturno) projetos para formar atletas de eSports, ou atletas de videogame!
A principal questão que veio à tona, na implementação deste projeto, e também no feedback dos pais e curiosos era: “mas as crianças já não passam tempo demais jogando videogame”? E a resposta é que: sim! As crianças já passam tempo demais jogando videogame – e isso é um caminho sem volta. As crianças irão continuar jogando videogame.
O ponto é justamente usar a força do videogame para ensinar habilidades como liderança, comunicação, trabalho em equipe, criatividade, pensamento crítico e afins. Hoje nós, das gerações anteriores, estamos aficionados com o metaverso e as possibilidades que ele pode nos proporcionar. O que não percebemos é que essas crianças já vivem esta realidade dentro dos games.
O Universo dos games é mais rico do que qualquer projeto de metaverso já criado! E as escolas não sabem usar isso a seu favor para ensinar habilidades dentro do contexto das crianças. A questão é olharmos para o que chamamos de Habilidades Transferíveis, ou seja, o que aprendemos em um lugar que pode ser aplicado em outro, com contextos completamente diferentes?
No Brasil, o Clube de Habilidades tem uma proposta similar, onde usa games que já existem – e mais importante que isso, que as crianças já gostam – para ensinar habilidades humanas. Além disso, este tipo de abordagem coloca as crianças na melhor posição para aprender qualquer coisas: querer estar lá. Isso abre brecha para, inclusive, tratar questões importantes como fake news, bem-estar, vício em videogames, nutrição, cyber segurança e afins.
Os games já criaram “metaversos” incríveis para nós: quando passaremos a usá-los?
10. Palestra: Make Learning Fun
O que começou com uma tentativa ridícula de fazer os alunos engajarem na aula, acabou virando um must em todas as aulas de Dave Poirer – um professor comum que acabou se tornando uma celebridade do TikTok.
Após a quarentena e a oficialização da educação a distância, as escolas mundo a fora enfrentavam dois desafios principais:
- Engajamento dos alunos – já que, naturalmente, raros são os conteúdos que são engajadores, ainda mais competindo com um mundo onde o entretenimento é a regra.
- Engajamento dos professores – já que os professores foram treinados para dar aulas presenciais e também enfrentaram dificuldade para se adaptar ao mundo digital.
Foi ao meio desta crise que Dave resolveu começar a iniciar as suas aulas de forma diferente. Eu poderia explicar, mas prefiro que você veja com os próprios olhos:
@teachpoirier Day 6? Let’s #MakeLearningFun ?????#teachersoftiktok #teacher #teachertiktok #teachertok #foryou #onlineclass #school #happy #Monday @wwe #wwe ? original sound – Dave Poirier
Dave resolveu os dois problemas de uma vez só! Se por um lado seus alunos estava animados no início de todas as aulas, ele também passou a encontrar a felicidade de dar aulas e se conectar com seus alunos novamente.
“Make learning Fun”, que é basicamente o slogan da Dave, é algo que deveria estar na mente de toda a educação. As crianças vão para escola por obrigação, sabendo que poderiam estar fazendo coisas mais empolgantes (videogames, tiktok, desenhos, etc), o que reduz, inclusive, o aprendizado delas.
Ao fazer aulas divertidas, o brilho no olho e a curiosidade das crianças voltou a aparecer, reacendendo a chama das crianças pelo aprender. Para finalizar, Dave traz a tese que “conexão é mais importante que conteúdo”, e que é isso que todo professor deveria buscar em suas aulas.
11. Palestra: A era de Ouro da Educação
Aaron Rasmussn é empreendedor, inventor, designer de games e fundador das icônicas escolas digitais Masterclass e Outlier.org, que foi nomeada como uma das melhores invenções de 2020 pela Forbes, além de receber vários prêmios do tipo.
Aaron começa a palestra com a frase “informação não é o mesmo que educação”, especialmente num mundo sobrecarregado de informação, gerando muito mais ruído do que sinal.
Entretanto, pontua, hoje vivemos num mundo muito próximo de “Aprendizado Instantâneo”, ou seja, quase como se pudéssemos fazer o download de qualquer habilidade para dentro do nosso cérebro. Temos acesso a básicamente qualquer “How to” no mundo, seja através do Youtube, Blogposts ou Wikipedia.
Mas se temos acesso a qualquer conteúdo, porque reclamamos tanto que a educação precisa mudar? Afinal, o antigo modelo educacional nos levou para a Lua, não levou?
Os pontos de atenção são os seguintes:
- Não sabemos o que é importante o aluno realmente aprender.
- Nunca se quer perguntamos como um aluno está se sentindo, durante a aula.
- Criamos um mundo de padronização de pessoas, numa educação para a era industrial, e pivotamos para uma era de personalização, onde continuamos ensinando em massa, num mundo digitalizado e, cada vez mais, individualizado.
A questão é que estamos procurando a nova fórmula mágica da educação, como se ela existisse. Só que esse é apenas um sonho distante. Não existe uma fórmula mágica, mas possivelmente várias delas, ou ainda, várias delas combinadas. O futuro da educação é:
- Síncrono.
- Assíncrono.
- Online.
- Presencial.
- Experiencial.
- No Metaverso.
- Na vida real.
- 1on1
- Em massa.
- Possivelmente, muitos deles misturados.
Acima de tudo, o futuro da educação é eficaz e contextual. Teremos o direito de escolher o que funciona para gente, quando e como funciona. E, se antes, as pessoas tinham que se limitar a escolher o que queriam aprender. Fosse porque faltava dinheiro, fosse porque faltava tempo, fosse porque faltava conhecimento de base, hoje a nossa missão como educadores é desenvolver tecnologia e metodologia o suficiente para que qualquer pessoa possa aprender qualquer coisa.