Inovação é, sem dúvidas, uma das principais buzzwords do mundo dos negócios nos últimos anos. Novas definições e novos tipos de inovação parecem surgir todos os meses, o que pode fazer com que muitas pessoas passem a se perguntar: O que (realmente) é inovação?
Assim como diversas outras definições, uma boa forma de obter uma resposta do que é inovação é expor o que ela não é. A seguir, temos 3 exemplos do que muitas pessoas podem considerar como inovação, mas que não traduzem o real significado da palavra:
Inovação não é um evento isolado
Em seu livro Mapping Innovation, Greg Satell defende que:
“Nós tendemos a pensar em inovação como resultante de um único flash brilhante, mas a verdade é que é um processo prolongado que envolve a descoberta de uma visão, a engenharia de uma solução e, em seguida, a transformação de uma indústria ou campo.”
Pense em algumas das empresas mais inovadoras dos últimos anos, como Uber, Airbnb e Nubank.
Elas podem parecer “surgidas do nada”, mas todas foram construídas sob determinados contextos que estão diretamente ligados à sua força inovadora (como a crise de 2008, que alavancou Uber e Airbnb nos Estados Unidos, ou o péssimo atendimento de bancos tradicionais a clientes no Brasil, que alavancou o sucesso do Nubank). Além disso, essas empresas seguem processos inovadores praticamente intermináveis.
Citamos a história do Nubank em um artigo especial sobre o case de uma das empresas mais inovadoras do Brasil nas últimas décadas.
Inovação não é colocar um tobogã na sua empresa
Desde que a Google se tornou um modelo de empresa para negócios do mundo inteiro, milhares de gestores passaram a ver a empresa como um modelo a ser seguido. Embora possamos concordar que a Google é sim um exemplo de inovação, empresa inovadora e inovação disruptiva, muitos gestores sofrem com uma Miopia de Inovação (parafraseando Theodore Levitt).
Empresas passaram a adotar escritórios abertos, tobogãs, jogos e snacks para seus colaboradores muitas vezes sem perceber que isso é apenas parte do processo de inovação.
Embora possa parecer óbvio, uma empresa não se torna inovadora ou disruptiva simplesmente por derrubar as paredes e dar comidinhas saudáveis para os colaboradores.
Inovação tem a ver, sobretudo, com pessoas e processos.
Segundo Brian Chesky, cofundador e CEO do Airbnb:
“Se você quebra a cultura, você quebra a máquina que faz os seus produtos. Quanto mais forte a cultura, mais confiança haverá para que os colaboradores façam a coisa certa e menor será a necessidade para regras formais e processos. E quanto menos processos e quanto mais clara for a visão geral, melhores as condições para inovação.”
Inovação não é ter ideias disruptivas
Ideias tem sim o seu valor, mas não são necessariamente o ponto central das empresas inovadoras. Mesmo assim, como falamos no ponto anterior, inovação tem a ver com processos e pessoas, e ideias são apenas uma parte do processo inteiro.
Segundo Satell, todo processo de inovação, possui três etapas: Discovery (Descobrimento de novos insights); Engineering (Construção de novas soluções); Transforming (Transformação da indústria e da sociedade).
Afinal, o que é Inovação??
Como já mencionamos, existem diversas definições diferentes do que é inovação. Como gostamos de referências, aqui estão algumas definições dadas por alguns dos maiores especialistas em inovação do mundo:
“A aplicação de idéias novas e úteis. A criatividade, a capacidade de gerar ideias novas e úteis, é a semente da inovação, mas, a menos que seja aplicada e dimensionada, ainda é apenas uma ideia.” – David Burkus, autor de Under New Management
“De forma simples, inovação significa permanecer relevante. Estamos em um momento de mudança sem precedentes. Como resultado, o que pode ter ajudado uma organização a ter sucesso no passado poderia, potencialmente, ser a causa de seu fracasso no futuro. As empresas precisam se adaptar e evoluir para atender às necessidades sempre em mudança de seus constituintes.” – Stephen Shapiro, ex-especialista em inovação da Accenture
“Uma inovação é uma oferta relevante viável, como um produto, serviço, processo ou experiência, com um modelo de negócio viável que é percebido como novo e é adotado pelos clientes.” – Gijs van Wulfen, especialista em inovação e Design Thinking
Pois é, não existe um consenso entre os maiores especialistas do mundo sobre o que é, afinal, inovação. Para este artigo, usaremos a definição apresentada por Greg Satell em Mapping Innovation, onde ele diz que inovação é:
“Uma nova solução para um problema importante”.
Os 4 Tipos de Inovação ?
Assim como existem diversas definições diferentes para inovação, existem também diversas classificações diferentes para tipos de inovação.
? Larry Keeley defende 10 tipos de inovação em seu livro Ten Types of Innovation.
? Greg Satell expõe 4 tipos de inovação em seu livro Mapping Innovation.
? No clássico The Innovator’s Dilemma, Clayton Christensen divide a inovação em incrementais e disruptivas.
Para este artigo, usaremos a classificação de Jake Nielson, especialista em inovação e IOT Product Leader na Emerson. Nielson divide a inovação em 4 tipos: Incremental, Disruptiva, Novos Mercados e Integrativa.
Vamos ver cada uma delas!
1/4 – Inovação Sustentável ou Inovação Incremental
Inovação Incremental é a forma mais comum de inovação dentro das empresas. Nesse tipo de inovação, melhorias incrementais são adicionadas a um determinado produto já existente, buscando satisfazer os clientes que a empresa já possui.
Um exemplo recorrente desse tipo de inovação são os habituais lançamentos de novas versões de smartphones por empresas como Apple e Samsung, onde cada novo aparelho traz diferenças de hardware, tela e câmera, por exemplo.
2/4 – Inovação Disruptiva
Para Nielson, uma Inovação Disruptiva é aquela que traz uma alternativa de baixo custo, possibilitada por novas tecnologias.
Um dos exemplos mais memoráveis é, sem dúvida, a Netflix, que possibilitou que pessoas assistam milhares de filmes e séries sem que dependam do aluguel dos títulos. Isso só foi possível pela evolução tecnológica, o que deu à Netflix a possibilidade de oferecer milhares de filmes e séries on-demand, acessível pelos clientes a qualquer hora, em qualquer lugar e por diversos dispositivos.
Na inovação disruptiva, onde temos “alternativa de baixo custo”, custo pode ser entendido também do ponto de vista de tempo e comodidade, não apenas de preço, exatamente como aconteceu no caso da Netflix.
Ao contrário das inovações incrementais, uma inovação disruptiva é mais arriscada, podendo representar grandes ganhos, mas também grandes perdas para a companhia.
3/4 – Inovação de Novos Mercados
Na Inovação de Novos Mercados, as empresas buscam modificar soluções existentes para atingir novos mercados.
Para Nielson, as empresas que buscam uma Inovação de Novos Mercados devem estar atentas aos segmentos desse novo mercado e às competições que já existem lá.
A Globo, por exemplo, ao perceber que soluções de streaming estavam ganhando o mercado de entretenimento, anunciou em 2015 o GloboPlay, sua própria plataforma de produções originais e séries e filmes exclusivos, além de conteúdos jornalísticos.
4/4 – Inovação Integrativa
Por fim, Nielson apresenta a Inovação Integrativa, que ocorre quando empresas combinam diversas features de produtos diferentes em apenas uma solução.
Os produtos criados a partir de Inovações Integrativas geralmente possuem um preço mais alto quando comparado com seus possíveis concorrentes, justamente por trazerem diversas características diferentes.
A estratégia é fazer com que consumidores mais premium comprem a solução logo de início, o que dará à empresa caixa para investir em soluções integrativas mais baratas, atingindo mais pessoas.
Segundo o próprio Elon Musk:
“A estratégia da Tesla é entrar no segmento mais alto do mercado, onde os clientes estão preparados para pagar um alto preço e, em seguida, alcançar o resto do mercado o mais rápido possível para volumes mais altos e preços mais baixos com cada modelo sucessivo.”
Parece complicado? Veja um exemplo:
O Tesla Roadster, por exemplo, primeiro carro lançado pela Tesla, trazia uma integração interessante entre:
- Carro Elétrico;
- Carro Esportivo;
- Carro Sustentável.
Ao criar o Roadster, a Tesla conseguiu criar um novo conceito de carro, unindo três features de outros tipos de carros de forma nunca antes vista, seguindo, assim, uma Inovação Integrativa.
O preço do Roadster, mesmo para o padrões norte-americanos, não era nada acessível: 100 mil dólares. Mesmo assim, o modelo gerou caixa para que a empresa pudesse trabalhar em modelos subsequentes, como Model S, Model X e Model 3.
Inovação, sempre
Obviamente, a classificação feita por Nielson é apenas uma das muitas classificações possíveis. Você poderia argumentar que a Inovação Integrativa na verdade cria um novo mercado, podendo ser chamada de Disruptiva ou de Novos Mercados.
Embora as definições sejam variadas, uma coisa é certa: Inovação nunca é um evento isolado. Inovação é um conjunto de processos, adaptados especificamente para cada um dos tipos de inovação.
Muito bom, uma visão geral e bem clara