Jorge Paulo Lemann completou em 26 de agosto de 2023, 84 anos. Considerado por muitos o maior empresário brasileiro de todos os tempos, o bilionário é o principal nome por trás da 3G Capital, empresa que controla, dentre diversos outros negócios, a ABInbev (maior cervejaria do mundo) e a Kraft Heinz.
Conhecido como “Conquistador da América”, titulo atribuído ao empreendedor pela revista Forbes em 2014, Lemann é referência no mercado de ações e empreendimentos, acumulando uma fortuna de US$ 16,2 bilhões (2022), sendo a 114ª pessoa mais rica do mundo e o segundo do Brasil.
Grandes Lições de Jorge Paulo Lemann
Recentemente, Lemann participou de um painel na Expert, evento promovido pela XP Investimentos ocorrido em São Paulo. Além de Lemann, o evento contou com nomes de peso, como:
- Ben Bernanke, presidente do FED (Banco Central norte-americano) entre 2006 e 2014
- Sérgio Moro, ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública
- Ricardo Amorim, fundador do AAA Inovação
- Michael Phelps, nadador e maior medalhista olímpico de todos os tempos
- Guilherme Benchimol, CEO do Grupo XP
Em uma conversa de mais de uma hora conduzido por Cristiane Correa (autora de Sonho Grande), Jorge Paulo Lemann e Guilherme Benchimol trocaram experiência sobre negócios, história de vida e gestão.
Abaixo, algumas das principais respostas de Lemann durante a conversa:
1) Cultura e Resultado
Cultura é uma das coisas mais importantes numa empresa. Quando examino um investimento numa empresa, estou muito interessado na cultura da empresa, nas pessoas que trabalham lá, na governança, quase mais importante do que o negócio no qual a empresa está envolvida. Sempre demos muita importância à cultura, em atrair gente muito boa, achamos que gente boa atrai gente boa. Uma empresa depende da sua cultura, e é isso que vai torná-la perene.
Em termos de cultura, a XP provavelmente aprendeu conosco. Agora, nós temos muito o que aprender com a XP. Na nossa cultura, o que ficou faltando um pouco foi a aproximação com os nossos clientes, com o consumidor. Nunca foi o nosso forte. (…) Nós sempre fomos super eficientes em produzir, em cortar custos. Nunca fomos bons na aproximação com a clientela e a XP é craque nisso. Nós temos que aprender isso com ela. E nós ficamos atrasados também em termos de tecnologia, em usar novas tecnologias. Estamos correndo atrás. Ele (Guilherme Benchimol) aprendeu conosco e nós agora estamos olhando para ele e correndo atrás e vamos melhorar.
2) Manutenção de Cultura
Se você tem gente muito boa, gente que se dá bem, que trabalha em conjunto e organizadamente, é muito mais fácil manter uma cultura do que quando as pessoas estão brigando e se desentendendo. Nós sempre tivemos um sonho grande. Um sonho grande ajuda a manter as pessoas unidas para ir em uma direção. Nós sempre tivemos metas muito claras. Poucas metas, mas metas claras. Temos que ter certeza que tem pessoas que vão continuar a nossa cultura pra frente. Você tem que dar oportunidade para os mais novos crescerem, para os mais jovens aparecerem. Você tem que criar pessoas que, eventualmente, serão melhores do que você.
3) Jorge Paulo Lemann e os Riscos
As nossas principais características são atrair gente boa, ter metas muito claras, ter um sonho grande, executar bem. E eu sempre considerei risco uma parte do negócio e da vida. Eu acho que quem não arrisca, não faz nada, então tem que arriscar um pouco.
(A Amazon) Toma riscos pequenos. Vai sempre tomando riscos pequenos, se os riscos não funcionam bem, ela corta e o negócio grande continua.
4) Lições vindas do esporte
O esporte foi muito importante na minha vida. Ele me ensinou, em primeiro lugar, que não tem moleza. Se você não treina, não pratica, se você não está se preparando, você não é competitivo. Nos negócios é assim também, se você não é bom, se você não está afiado, você não vai chegar lá. No tênis eu aprendi a perder. Você não ganha sempre. E se você perde, você tenta analisar o que não fez bem e o que você pode melhorar para a próxima vez. (…) Eu fali quando tinha 26 anos e tive outros problemas. (…) No ano passado tivemos um fracasso, que foi a Kraft Heinz. Não funcionou bem o que achávamos que ia ser um grande negócio. Estamos consertando e vamos voltar. O esporte ensina isso, que você não deve desistir, tem que continuar tentando sempre. Acho que o esporte também tem muita psicologia. Se você está competindo com outro, você entende como a outra pessoa vai reagir e isso é importante. O esporte foi essencial, foi muito importante.
5) Como Jorge Paulo Lemann contrata?
Eu adoro fanáticos. Gente boa para trabalhar com você são aqueles que tem uma vontade enorme, que vão correr atrás, que vão superar todas as dificuldades. Esses são os bons que vão te ajudar a construir alguma coisa. Aquele cara que é super preparado, com belos diplomas, pode ser bom também, mas só isso não resolve. O que resolve mesmo é a pessoa querer correr atrás, querer fazer acontecer, querer construir alguma coisa maior e contribuir para o mundo.
6) Erros
Quando eu tinha 26 anos eu trabalhei em uma empresa com sujeitos cheios de diplomas, mais velhos do que eu. E nós falimos. (…) Aprendi muito. Basicamente, naquela época a maior lição foi que todos nós queríamos fazer grandes negócios e ninguém queria tocar a retaguarda da empresa. Aprendi que você pode fazer grandes negócios, mas tem que estar com a casa em ordem. (…) Tomamos alguns riscos grandes demais. Na compra da Anheuser-Busch, nos endividamos em 54 bilhões de dólares, o mercado financeiro estava em pânico, mas saiu tudo bem. Mais tarde tomamos um grande risco comprando a SAB Miller, que era a segunda maior cervejaria do mundo. Compramos basicamente porque ela era dona do mercado africano. O mercado africano o pessoal hoje não dá muito valor, mas tem 1 bilhão de população e terá 2 bilhões em 20 anos. Mercado de gente jovem, países de muito calor. É um mercado para cerveja. A África é meio confusa, mas vai se organizar. Tomamos um risco grande, estamos devendo 100 bilhões de dólares e estamos suando pra pagar, mas vamos sair dessa e a ABI (ABInbev) vai ser uma empresa muito grande daqui 30, 40 anos. (…) Recentemente tivemos um sonho grande de construir o que fizemos com cerveja, na área de comida, com a Kraft Heinz. O sonho não andou como queríamos e temos que consertar. O sonho grande não permanece, não é mais possível construir algo tão grande quanto a parte cervejeira na área de comida, mas há cinco, seis anos, nós não sabíamos disso. Tentamos, não deu certo e vamos tocar pra frente, sempre tentando melhorar e construir mais.
7) Sobre estar sempre “batendo perna”
Há um ano e pouco e me autointitulei um “dinossauro apavorado”. Estava ali um pouco encastelado, achando que estava tudo bem. Tive alguns incidentes que me mostraram que o mundo estava mudando rapidamente, que tudo estava sendo “disruptado”, passei a ver que tínhamos que agir mais rapidamente em relação a todas as transformações do mundo. Agora não sou um dinossauro apavorado, sou um dinossauro se mexendo. Estou correndo atrás. Estou correndo atrás para ver se me atualizo. Dos unicórnios brasileiros, eu invisto em três (Stone, Movile e Brex). Nota: Segundo Lemann, ele considera a Brex um unicórnio brasileiro pois a empresa foi fundada por dois brasileiros, Henrique Dubugras e Pedro Franceschi.
8) Sobre as mudanças no estilo de fazer negócios ao longo de 50 anos
No início era tudo bastante intuitivo, você fazia as coisas sem muitos dados. Sem dúvida nenhuma, hoje em dia tem muito mais dados disponíveis sobre tudo, o pessoal faz muito mais análise. De uma certa maneira eu sei que tem que ser assim, mas eu ainda gosto da intuição, do que é e do que não é um bom negócio. Com o tempo, apesar de todos os dados, você começa a ter noção do que é bom, do que não é bom. O Warren (Buffett), que talvez seja o maior investidor do mundo, é um processador de dados incrível, com a experiência de todos os negócios que ele já olhou. (…) No final, ele quem decide a maior parte dos investimentos. E é tudo baseado na experiência e na intuição que ele tem. Além dos dados todos, ele sabe olhar quais são os dados importantes, mas com muita intuição.
9) As principais influências de Jorge Paulo Lemann no mundo dos negócios
Eu tentava muito ver o que os empreendedores americanos estavam fazendo. Na época que o Jack Welch era o “bambambam” das empresas, eu lia muito o que ele dizia e o que ele recomendava. Depois, tive muito contato com o Sam Walton, da Walmart. Nós tínhamos comprado as Lojas Americanas e visitamos o Walmart, passamos a ser amigos dele. (…) Sempre tentei olhar o que os grandes empresários do mundo estavam fazendo. Fui ao Japão, conheci o Matsushita, que montou o maior império industrial pós-guerra no Japão. Depois conheci o Warren e viramos sócios em alguns negócios. Sempre aprendi muito com ele. Estou sempre olhando o que as pessoas bem-sucedidas estão fazendo. E agora fico olhando também esse pessoal da tecnologia. Os do Google, o Bill Gates, a Amazon. Acho que com a Amazon tem muita coisa para aprender.