Quando o mercado anuncia que uma empresa vai fazer um IPO, ou seja, uma oferta pública inicial de ações em bolsa de valores, qual é a sua reação?
- Fica curioso e vai buscar mais informações sobre a empresa?
- Liga para um assessor de investimentos para entender se é uma oportunidade de investimento ou não?
- Descarta a notícia e segue a vida como se nada tivesse acontecido?
O fato é que, todo IPO (Sigla em inglês para Initial Public Offering) é um processo complexo que envolve inúmeras variáveis. Por isso, antes de investir ou não, é fundamental entender os altos e baixos, as ameaças e oportunidades por trás desse processo de abertura de capital das empresas, seus impactos nos investimentos e na economia.
Por que as empresas decidem pela abertura de capital em bolsa?
De acordo com o guia Como Crescer da Ernst Young (EY), existem diversos benefícios, dentre eles:
- Acessar uma fonte com alta disponibilidade de recursos;
- Ganhar agilidade no processo de fusões e aquisições, uma vez que as ações da companhia podem ser usadas como moeda de troca;
- Melhorar a imagem institucional;
- Obter um forte incentivo à profissionalização e às melhorias constantes no desempenho e na governança corporativa;
- Solucionar questões relacionadas à sucessão familiar ou à saída de um sócio financeiro (fundo de private equity ou venture capital).
“Abrir o capital da empresa e listar ações em bolsa exige muita disciplina e doses ainda maiores de transparência. As melhores práticas apontam para a necessidade de construir as bases de uma empresa de capital aberto mesmo antes de listá-la”, diz Marcelo Suhara, sócio de Mercado de Capitais da EY.
Para se ter uma ideia de como é preparar para um IPO, o mesmo guia citado traz um cronograma geral:
Mesmo diante de tamanha complexidade, os benefícios parecem ultrapassar os custos. Acaba que a abertura de capital é um caminho quase que inevitável quando a empresa atinge determinado porte e pode fazer parte da lista de maiores empresas do mundo. No entanto, isso não quer dizer, necessariamente, que seja um bom negócio para o investidor. Falaremos sobre isso mais adiante.
Para se ter uma ideia de grandeza, confira abaixo o volume astronômico que os 10 maiores IPOs da história conseguiram alcançar, em termos financeiros:
Principais de Casos de IPO no Brasil
Apesar de ter um ambiente de bolsa menor, o Brasil é um bom player, quando comparado com os países desenvolvidos.
Segundo dados da B3 – companhia brasileira criada em 2017 com a fusão entre a BM&F Bovespa e a Cetip, de 2004 até Janeiro de 2020, foram captados R$ 193,2 bilhões em 174 ofertas públicas. O que nos dá um ticket médio de R$ 1,1 bilhão/IPO em cerca de 10 IPOs por ano.
No gráfico abaixo, podemos ver a evolução de IPOs e Follow-Ons (ofertas subsequentes), bem como a quantidade de empresas que os fizeram. Alguns anos foram bem destacados:
Em 2007, tivemos um boom de aberturas de IPO. Foram 64 empresas abrindo capital, movimentando R$55,6 bilhões e 12 empresas fazendo ofertas subsequentes, num volume de R$ 14,4 bilhões.
Já em 2010, IPOs ficaram em modestos R$ 11,1 bilhões. O destaque foi no follow-on da Petrobrás (PETR4), que sozinha realizou estratosféricos R$120,2 bilhões.
Entre 2011 e 2016, podemos dizer que a bolsa brasileira andou de lado, tal qual um caranguejo. IPOs praticamente não saíram do lugar.
Em 2019, tivemos um ano ímpar para a economia e política do Brasil, sendo que tais movimentos acabaram refletindo no humor do mercado. Foram 35 follow-ons e 5 aberturas de capital:
No todo, incluindo os IPOs, a bolsa brasileira rendeu 32% em 2019, enquanto o CDI ficou em 5,9%.
É fato que, com uma taxa de juros em torno de 4% a.a., o investidor direcione parte do seu portfólio para renda variável, que apresenta no longo prazo, melhor rentabilidade.
IPOs no Brasil em 2020
A expectativa do mercado este ano é que sejam realizados entre 20 e 30 IPOs. Até fevereiro, foram realizados 4.
Entenda cada uma delas e porque este ano está apresentando bons sinais:
É interessante observar que a Locaweb, por exemplo, decidiu por abrir o capital no Brasil, ao invés de buscar uma Nasdaq, por exemplo, como muitas outras de tecnologia o fizeram. Veja exemplos disso, logo abaixo:
Já com a Priner, o volume total da oferta totalizou cerca de R$200 milhões, o menor volume captado em um IPO na B3 desde 2013.
Esse foi um caso interessante do ponto de vista de mercado, pois inaugurou um tipo especial de oferta na B3, uma abertura pequena, porém, com uma demanda enorme de pessoas físicas.
Gilson Finkelsztain, presidente da B3, afirmou na ocasião que “isso mostra a relevância que o mercado de capitais vem adquirindo nos últimos anos contribuindo para a história das empresas”.
E essa parece estar sendo uma tendência, pois com um cenário de juros baixos, os investidores tenderão a buscar mais retorno na bolsa e as empresas voltarão sua atenção para a bolsa para se capitalizarem melhor, para crescer.
Nesse sentido, estão dadas as condições para que haja um destravamento de IPOs no Brasil neste ano de 2020.
Na esteira disso tudo, outras empresas já estão em processo de IPO e provavelmente serão listadas este ano: Banco Votorantin, Caixa Seguridade, Gaspetro (subsidiária da Petrobrás) e Madero.
Esta última empresa, Madero Restaurantes, provavelmente abrirá seu capital nos EUA, na NYSE (New York Stock Exchange – a bolsa de Nova Iorque).
Mas por que abrir lá fora, ao invés de optar pela B3?
IPOs de Empresas Brasileiras no Exterior
No Brasil, temos cerca de 330 empresas listadas, enquanto nos EUA são mais de 5 mil.
O movimento de juros baixos é recente no Brasil, porém, isso já é antigo e maduro nos EUA.
É normal por aquelas bandas, empresas financiarem seu crescimento por meio da bolsa, gerando retornos maiores para os investidores em detrimento da renda fixa.
Por conta do volume de investidores, maior apetite a risco, maturidade, volume de empresas e menor burocracia, as bolsas estadunidenses (NYSE e Nasdaq) tendem a gerar volumes maiores de capital em IPOs, por meio do pagamento de maiores múltiplos.
Entre 2018 e 2019, foram 13 empresas brasileiras que abriram o capital fora do país, entre elas a XP Investimentos (XP Inc.), e as três startups do Brasil que haviam conquistado o título de unicórnios brasileiros: Stone, Arco Educação e PagSeguro.
Mais Casos de IPOs
Como vimos anteriormente, dos 10 maiores IPOs da história, nenhum é brasileiro.
Porém, se engana que a hegemonia seja norte americana. Veja a tabela novamente:
Após a primeira colocação, ocupada pela Saudi Aramco da Arábia Saudita, temos três empresas asiáticas da China e Japão, respectivamente.
Campeã dos IPOs até agora, a Saudi Aramco abriu seu capital na bolsa saudita, levantando US$ 25,6 bilhões, com apenas 1,5% das ações da empresa, precificando-a em torno de US$ 1,7 trilhão.
Mas daí você se pergunta: Com tanto dinheiro em caixa, empresa que faz IPO é sinônimo de sucesso empresarial, certo?
E a resposta é um sonoro: NÃO!
Você já ouviu falar de empresas como Uber, WeWork, OGX, Oi?
Provavelmente sim, você as conhece. São casos emblemáticos de IPOs que não refletiram nos resultados das companhias.
Cuidados ao investir em IPOs
IPOs são carregados de expectativa, taxas caras e emolumentos dos agentes de mercado, por isso, a tendência é que os preços ofertados inicialmente sejam altos, jogando seu retorno lá embaixo.
Na pesquisa realizada pela EY, extraída do mesmo guia Como Crescer, são detalhados os aspectos mais importantes na hora de avaliar e investir em uma empresa:
Adicionalmente, em uma entrevista para a CNBC, Warren Buffett, um dos maiores investidores do mundo, acompanhado do seu parceiro de negócios Charles Munger, alertou o seguinte “participar de IPOs em um mercado eufórico é algo que o pequeno investidor deve evitar.”
E, na época, disse mais: “eu não vou comprar IPO da Uber, porque eu nunca comprei ações em IPOs”.
Portanto, quando o maior investidor do mundo fala que o pequeno investidor deve evitar IPOs e que, ele mesmo não investe nessa fase, então recomendo cautela e muito, muito estudo antes de investir em IPOs.
Conclusão observando os pontos chave:
- IPO é um processo complexo que envolve inúmeras variáveis;
- Existem diversos benefícios para a empresa que opta por abrir seu capital, tais como: alta disponibilidade de recursos, melhoria da imagem institucional, incentivo à profissionalização e governança corporativa, solução para questões relacionadas à sucessão familiar ou à saída de um sócio financeiro;
- IPO não quer dizer, necessariamente, que seja um bom negócio para o investidor, pois em diversos casos a empresa não está madura o suficiente e/ou os preços ofertados foram inflados devido aos custos envolvidos e avaliações excessivamente otimistas;
- O Brasil é um grande player no mercado global e atrai bilhões em investimentos, tanto nacionais, quanto internacionais;
- Empresas brasileiras podem tanto captar recursos de investidores internacionais, por meio da B3, quanto abrir seu capital em bolsas estrangeiras;
- O Brasil ainda tem muito a crescer em termos de IPOs e Follow-Ons. Com a queda de juros e melhoria do cenário político e econômico, essa é uma tendência;
- Além do fato de empresa menores começarem a acessar a bolsa cada vez mais, habilitadas dentro desse cenário descrito;
- IPOs podem dar errado. E dão! Como é o caso de empresas como Uber, WeWork, OGX e Oi.
Espero que tenho aprendido um pouco mais sobre os altos e baixos de um IPO.
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Forte abraço e até o próximo estudo.