Empreendedor em Tecnologia, Engenheiro pela UFSC, Doutor/pós doutor em Inteligência Artificial pela Univali e empreendedor social junto ao Instituto Vilson Groh. Escrevo sobre Inteligência Artificial, Big Data, Machine Learning e tecnologia como ferramenta de transformação social.
“Quem me dera ao menos uma vez explicar o que ninguém consegue entender: o que aconteceu ainda está por vir e o futuro não é mais como era antigamente”.
O que a Legião Urbana, na voz inesquecível de Renato Russo, profetizava em 1986, está começando a se materializar por meio da inteligência artificial. O que aconteceu está por vir – ou melhor – já veio.
Em várias partes do mundo, mistérios antigos começam a ser desvendados. Entre eles, as origens da Bíblia, a partir da análise digital de objetos de 2600 anos atrás. Sabemos que o livro sagrado foi escrito algum tempo após os acontecimentos narrados, mas não quando, exatamente. Um estudo feito na Universidade de Tel Aviv mostrou que os textos eram escritos em cerâmicas, numa técnica chamada ostraca, e são elas que estão sendo estudadas na pesquisa.
Ferramentas de processamento de imagens são usadas para restaurar caracteres, mais ou menos como acontece com algoritmos de empresas de tecnologia para assinatura digital. Uma primeira análise já foi publicada na revista Proceedings e aponta que vários autores de uma cadeia de comando militar se comunicavam por escrito, retratando uma proliferação da alfabetização que permitiu a base educacional para a existência da Bíblia.
Já na Universidade de Groningen, na Holanda, cientistas concluíram que foram dois os escribas dos Manuscritos do Mar Morto, que inclui os textos bíblicos mais antigos conhecidos e foi uma das mais importantes conquistas da arqueologia no século XX, cujos fragmentos foram encontrados em cavernas entre Israel e a Palestina no final da década de 1940. A Inteligência artificial foi utilizada para analisar o texto do Grande Pergaminho de Isaías com uma rede neuronal eletrônica, o mais extenso e bem conservado dos Manuscritos. A descoberta sobre a dupla escrita pode indicar que eles foram alunos de um mesmo mestre ou que pertenciam a uma mesma família.
IA como forte aliada da ciência e das artes
Mistérios da biologia também estão se beneficiando da IA. Era 1972 quando Christian Anfinsen recebeu o Prêmio Nobel por mostrar que seria possível determinar a forma das proteínas com base na sequência de seus blocos de aminoácidos. Desde então, cientistas do mundo todo tentam desvendar a forma de um conjunto de cerca de 100 proteínas a partir de suas sequências de aminoácidos. Este ano, uma equipe de cientistas do Casp (experimento sobre a avaliação de técnicas para predição de estrutura de proteínas) determinou a forma de aproximadamente dois terços das proteínas se utilizando de um conceito chamado de aprendizado profundo, no qual a estrutura de uma proteína dobrada é representada como um gráfico espacial. O programa aprende por meio de informações sobre as formas 3D de proteínas conhecidas mantidas no Banco de Dados Público de Proteínas, e conseguiu fazer em dias o que poderia levar anos em um laboratório. Conhecer a estrutura 3D de uma proteína permite compreender melhor doenças como câncer e demência e conceber novos tratamentos.
Mas nem tudo ainda é desvendável pela ciência de dados. Outro mistério, de um passado mais recente, está gerando polêmica: a suposta descoberta do delator da família de Anne Frank. O esconderijo da família da adolescente judia, autora do diário que se tornou ícone do holocausto, teria sido revelado por Arnold van den Bergh, um judeu de Amsterdã. A conclusão foi da equipe de investigação do livro “Quem traiu Anne Frank?: a investigação definitiva sobre a morte da autora do diário mais famoso do mundo”. A conclusão se deu após seis anos de investigação e uso de algoritmos de computador para buscar conexões entre muitas pessoas diferentes. Após a publicação do livro, porém, críticos e acadêmicos se pronunciaram contrários à conclusão. Para eles, as evidências eram insuficientes e as acusações, infundadas. O fato levou a editora holandesa Ambo Anthos a pedir desculpas pela publicação da obra.
As artes também vêm se apropriando das possibilidades da IA. Em seu perfil do Instagram o artista Hidreley Diao vem recriando a aparência de várias celebridades do passado, nos dando uma ideia de como elas seriam se vivessem atualmente. Confira outras simulações no link.
Obrigado pela leitura e até a próxima!