Para falar do futuro da educação, precisamos voltar em sua essência, séculos atrás na escola grega, a Paideia, onde criou-se uma das eras educacionais mais proeminentes de todos os tempos, bem como passar pela atrocidade pedagógica da sala de aula quadrada, para só então rumarmos os próximos passos da educação do Brasil, o papel da tecnologia e a demanda por humanos educados no sentido mais profundo e essencial destes termos.
Aperte os cintos, reserve 20 minutos do seu tempo, pois garanto vai valer a pena esta provocação.
O Brasil é um péssimo exemplo de cuidados com a Educação. Basta digitar “corte verbas educação” e você verá o seguinte:
Ao invés de investir cada vez mais em sua população, os governantes decidem, ano após ano, cortar os investimentos com educação, ao invés de priorizá-los.
Esse é o famoso “tiro no pé”. Ou seria “não querem criar cidadãos conscientes e questionadores dentro de casa?”
Enquanto os países desenvolvidos investem cerca de USD 10 mil por ano em cada aluno, o Brasil fica na casa dos USD 4 mil.
E pior, os investimentos em educação no Brasil vem caindo ano após ano. E vai continuar caindo se depender dos nossos queridos e espertos governantes.
O reflexo disso é óbvio: Cultura medíocre, visão de curto prazo, sonegação, corrupção desde a base – o que se expressa no jeitinho brasileiro e políticos eleitos corruptos.
Sendo mais concreto e objetivo, tomemos por base as avaliações escolares.
O Brasil na Avaliação Educacional
Quando o assunto é avaliação educacional, o PISA é uma referência mundial. Na edição de 2018, a pesquisa analisou 79 países, incluindo o Brasil.
O PISA é o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes da OCDE. O PISA mede, a cada 3 anos, a capacidade dos jovens de 15 anos de usar seus conhecimentos e habilidades de leitura, matemática e ciências para enfrentar os desafios da vida real.
Como você deve imaginar, o Brasil aparece lá em baixo na lista, na 57ª posição, atrás de praticamente toda Europa, Oceania, Ásia e Américas do Norte e Central, e bem abaixo inclusive, das médias OCDE em todas as três vertentes analisadas.
Coincidência ou consequência? Eis a questão!
O que é Educação?
Etimologicamente, Educação vem do Latim e significa o ato de criar, de nutrir, cultivar.
Quem melhor implantou esse conceito essencial foi a escola grega, chamada de Paideia.
Na Wikipedia, podemos encontrar o seguinte: “Paideia é a denominação do sistema de educação e formação ética da Grécia Antiga, que incluía temas como Ginástica, Gramática, Retórica, Música, Matemática, Geografia, História Natural e Filosofia, objetivando a formação de um cidadão perfeito e completo, capaz de liderar e ser liderado e desempenhar um papel positivo na sociedade.”
A formação do cidadão completo começava com Canto, Dança, Música e Mitos. Isso ia até uns 7 anos aproximadamente. Por meio dessas ferramentas, ensinava-se essencialmente Virtudes, Autoconhecimento e Relacionamento interpessoal.
Questões mais técnicas vinham em idades mais avançadas, pois eram consideradas secundárias.
Como observou Daise Diniz, em Reflexões sobre o ato de educar: educação e humanização, Revista Educação Pública, 2014:
“A educação, para nossos antigos filósofos, foi acima de tudo um exercício para o bem viver em comunidade, uma convivência calcada, sobretudo, na responsabilidade para com os outros e no respeito mútuo, que instaura a harmonia e preserva a dignidade entre os seres. A razão humana, no que tinha de mais sublime, era enfocada no ato de educar. […]
A questão que fica para nós é como estamos lidando com essa herança grega, num mundo em que se convencionou dissociar o sucesso do desenvolvimento do caráter. […]
O ato de educar foi barbarizado, barbarizado pela apatia, pelo politicamente correto e pelas falácias produzidas pela mídia. Nesse sentido é que o ato de educar torna-se um tema vivo, por necessitar de constante reflexão. A reflexão sobre que seres e que sociedade desejamos para nossa geração e para as gerações futuras.
Essa era a questão da Paideia grega, uma vez que, na Grécia Antiga, educava-se para a vida em comunidade, em todas as suas nuanças. É preciso indagar se nossas práticas educativas têm ajudado para nos tornarmos seres melhores, posto que o ato de educar pode ser o motor da construção de sujeitos éticos dotados de responsabilidade, solidariedade e de caráter para dar novos rumos à história humana“.
Após ler isso te pergunto: Alguma chance do Brasil e do mundo se direcionarem para algo nesse sentido?
Deseducaram a Educação
Não vou traçar a história da educação, nem pontuar quando e como a inversão de métodos aconteceu, pois contra fatos não há argumentos. A sala de aula quadrada se fez presente e ela incorporou padrões técnicos, inúteis em sua maioria e até certo ponto, desumanos.
Existem basicamente duas formas de aprender. A primeira é passiva e a segunda, ativa:
A figura abaixo representa a Pirâmide de Aprendizado de William Glasser. Note que a educação formal escolar quadrada como conhecemos é praticamente passiva, enquanto os métodos antigos eram essencialmente ativos.
Saindo da Paideia e vindo para os dias atuais, outro exemplo de boa prática em educação ativa é o Problem Based Learning (PBL), criado na década de 60 na Universidade McMaster no Canadá.
Neste método o aluno aprende a buscar soluções de forma ativa, para problemas propostos. Não há resposta certa e sim, soluções possíveis que ele vai desenvolver em grupo, e claro, aprender muito no meio do caminho até chegar às conclusões.
A imagem acima diz muita coisa, não?
Mesa redonda, interação, foco no grupo, no aprendizado e até dá pra ver os neurônios fritando, bem como as virtudes sendo testadas e desenvolvidas.
Aqui o professor assume papel de mentor, facilitador, apoiador, e não o dono da verdade absoluta, a partir do qual vomita teorias descoladas da realidade à frente e ao centro de uma sala de aula quadrada.
IMPORTANTE: Volte na lista do PISA acima e verá o Canadá (Criador do PBL) está em 6º lugar no ranking.
Coincidência ou consequência? Eis a questão novamente!
O Futuro Híbrido da Educação
Não é à toa que o YouTube é popularmente conhecido como a “Universidade do Mundo”.
Nele o conhecimento é compartilhado de forma direta, específica, acessível, gratuito, descentralizado e, na maioria das vezes, rápido.
Claro que uma plataforma desse perfil e porte esbarra num problema chamado “Curadoria”. Falaremos dela mais adiante.
O mundo moderno pede soluções flexíveis, práticas e objetivas como o YouTube. Por isso deu tão certo!
Desde assuntos mais básicos como limpar carpete ou fazer maquiagem, passando por tutoriais de todos os tipos e temas, entrevistas, programas semanais, cobertura de eventos, playlist de filmes, séries e músicas, locação de filmes proprietários até explicações para assuntos altamente complexos da humanidade. É a Barsa moderna elevada à milésima potência!
YouTube é só uma parte do futuro da educação
Tecnologia e Educação caminharão cada vez mais juntas porque formou-se uma simbiose perfeita, que está gerando frutos inimagináveis.
Veja os inúmeros casos de pessoas que vivem em zonas rurais, que só puderam continuar estudando nesta pandemia, porque do outro lado haviam professores e gestores dedicados que transmitiam seus ensinamentos por meio de aplicativos e plataformas digitais.
De outro lado, não faz mais sentido passar anos e anos na escola aprendendo conceitos que jamais serão utilizados na vida adulta.
O conceito de Lifelong Learning (Aprendizado contínuo por toda vida) ganha cada vez mais sentido porque ao estudar aquilo que a pessoa vai aplicar imediatamente, ela desce na pirâmide de Glasser e aprende de forma ativa, fixando conceitos de forma indelével.
Esse aprendizado prático, dinâmico, baseado em problemas, acessível e adaptado aos meios digitais é que darão à Educação uma característica cada vez mais híbrida.
Mas e os próximos passos?
A Qualidade da Educação
“O fato é que a qualidade da educação está fortemente aliada à qualidade da formação dos professores. Outro fato é: o que o professor pensa sobre ensino determina o que o professor faz quando ensina. Certamente, os professores não podem ser tomados como atores únicos nesse cenário.”
Esta observação da pedagoga Eliane da Costa Bruini em Educação no Brasil, explicita um dos maiores gargalos educacionais.
De nada adianta termos tecnologia, se não houver Curadoria. E jamais teremos uma boa curadoria de conteúdo, se o professor for mal remunerado, mal instruído ou formado e mal suportado, tanto pelos governos, quanto pela população.
Os países no topo do ranking PISA, são aqueles que mais investem em Educação. China, Canadá, Japão, Finlândia, só pra citar alguns, tratam os professores como mestres, deuses, guardiões do futuro, porque na pele deles jaz literalmente o futuro da nação.
Para isso, todo Ecossistema da Educação precisa trabalhar em conjunto. Mais uma vez, o termo híbrido faz todo sentido, pois esse ecossistema precisa ser composto por Pais, Alunos, Professores, Conteúdos, Instituições, Gestores e claro, Tecnologia.
Para reforçar esse ponto, observe os salários dos professores no mundo:
Países desenvolvidos investem em média, o dobro do que o Brasil em educação.
Mas afinal, qual o Futuro da Educação?
Não basta dar um tablet ao aluno, pedir que abra o YouTube e dizer: Aprenda!
É preciso selecionar os conteúdos que vão se aplicar àquele momento do aprendiz, que farão sentido à sua realidade, que vai tocá-lo profundamente e fazê-lo pensar.
Tecnologia é só o meio. Virtudes e Experiências são o final desse processo. É aqui que precisamos chegar. E para isso, todo Ecossistema da Educação deve atuar em conjunto, utilizando meios físicos e virtuais de forma complementar.
E também está claro que o sentido de híbrido também será aplicado no formato. Educação precisa ser tanto presencial, quanto online. Esta pandemia nos mostra claramente o tamanho da nossa necessidade de ver e sentir as pessoas fisicamente falando.
A escola presencial deverá ser direcionada para experiências, relacionamento, atividades que desenvolvam virtudes interpessoais, espaciais, físicas, como na Paideia grega.
E o online, em paralelo, como ferramenta didática exploratória, direcionada para temas mais objetivos e técnicos, pontuais.
Parece contraditório, mas falta muito para chegarmos no nível do que foi a Paideia. Tenho a esperança que um dia o mundo volte seus olhos para a Educação de forma humana, não política.
E você, o que acha?