No meu último artigo desenvolvemos o conceito da fixação funcional; sendo mais um viés cognitivo que torna inerte as ideias e pensamentos e dificulta a capacidade de um olhar mais amplo e criativo para que novos caminhos sejam vislumbrados. Já o artigo que trata da aversão ao risco, mostra nossa tendência a supervalorizar a segurança em detrimento de novas oportunidades.
A leitura conjunta desses dois conceitos nos indica uma enorme propensão a seguirmos uma trajetória linear, sem surpresas e reforçando conquistas e ideias passadas cada vez mais cristalizadas. Por outro lado, quando falamos em criatividade e inovação, estamos diante do novo, do excepcional, original e extravagante para mentes e empresas enraizadas em conceitos passados sem questionar ou buscar por novos prismas.
O medo da adoção da energia elétrica, por exemplo, foi algo forte na história da humanidade, e exemplifica bem a vontade de manter a realidade atual mesmo que a mudança traga sementes de oportunidades tão promissoras. Mas nem tudo está perdido, e a história também mostra os inúmeros avanços que passamos graças a mentes criativas, proativas e propensas ao risco em busca de melhores resultados.
No meu último artigo, propus uma metodologia para lidarmos de forma diligente contra os viéses negativos da nossa tendência inercial aos pensamentos fixos e cristalizados. Chama-se visão dos 3Ds, que comtemplam os Ds da diversidade, dificuldade e diversão, como antídotos eficazes ao veneno da paralisia de ideias. Neste momento, vamos desenvolver mais o conceito da diversidade.
A diversidade de conceitos
Do ponto de vista interno, somos capazes de interpretar o mundo à nossa volta pelo desenvolvimento de estruturas cerebrais que guardam conceitos aprendidos. Diferentes grupos de neurônios são guardiões dos distintos significados que damos aos objetos e palavras que conhecemos. Quando conseguimos ativar diferentes áreas do cérebro ao mesmo tempo e unir conceitos que antes existiam de forma isolada, somos capazes de formar novas ideias de maneira criativa. Ou seja, a diversidade de conceitos e a capacidade de conectá-los é a habilidade fundamental para uma mente inovadora. Portanto, investir num repertório diverso é condição primordial para qualquer pessoa e profissional que ambiciona ideias mais interessantes e inovadoras.
Einstein por exemplo, num mesmo ano (1905) publicou quatro trabalhos científicos importantes, sendo um sobre o movimento dos átomos, outro desenvolvendo matemática por detrás da economia financeiro, um terceiro sobre o efeito fotoelétrico, que hoje é a base dos painéis solares e o quarto que apresentou a equação mais famosa dele, E=mc2. Por mais única e fértil que fosse a “terra” da mente de Einstein, ele a adubou com a diversidades de campos de conhecimentos necessários para conseguir pensar de forma inventiva.
A diversidade de conceitos, campos de conhecimento e de visões é fundamental para lidar com a complexidade da realidade que é multifacetada e plural. Neste sentido, interagir com pessoas de gênero, vivências, culturas, raças e orientação sexual distintas é extremamente enriquecedor e necessário para que a amplitude de visões consiga encontrar soluções inovadoras.
Steve Jobs disse que “criatividade é a arte de conectar ideias” e Donatela Versace foi além e entende que “a criatividade vem de um conflito de ideias”. Ou seja, o enfrentamento de pontos de vistas opostos com repertórios e opiniões em debate, são formas muito ricas de encontrar novos caminhos e entender os diferentes nichos de mercado em que uma empresa está inserida. Esse item, que é fundamental na metodologia dos 3Ds, o primeiro inclusive, precisa deixar de ser ponderado e planejado como estratégia de reputação para ser entendido como propulsor de resultados de negócios.
Diversidade & Inclusão nas empresas: como CEOs podem aplicar na prática?
Os principais benefícios da diversidade
Para corroborar a importância da troca saudável de ideias e saberes, um estudo sobre diversidade, chamado “a diversidade como performance”, realizado pela consultoria McKinsey and Co., com dados de 2017 de pelo menos mil empresas distribuídas por 12 países, mostra que as empresas com times de executivos com maior variedade de perfis são mais lucrativas.
As companhias com maior diversidade de gênero (entre as 25% mais bem posicionadas no rank) têm 21% mais chances de apresentar resultados acima da média do mercado. No caso da diversidade cultural e étnica, a variedade é ainda mais relevante e esse número aumenta para 33%. Duas iniciativas criativas de incentivo à diversidade, que serão apresentadas são as da PepsiCo e da Cielo. A primeira tem um programa focado em pessoas que precisaram ficar um tempo fora do mercado de trabalho, como mulheres, depois de terem tido filhos.
Chama-se “ready to return” e desde 2019 está também funcionando no Brasil. Esse programa vai de encontro com uma iniciativa super bacana, chamado “Filhos no Currículo” que trabalha junto a grandes empresas no país com o intuito de criar ambientes humanizados para pais e mães dentro dos ambientes corporativos. Existe muita vivência enriquecedora que pode e deve ser agregada de forma acolhedora pelas empresas.
Ou seja, valorizar as experiências individuais é fortalecer a diversidade, criando ambientes agradáveis e propícios a troca de experiências e visões de mundo. Já a Cielo, criou o programa “MaturiJobs” para a inclusão de pessoas da terceira idade em suas equipes. Um projeto maravilhoso, de mão dupla, uma vez que as oportunidades dadas a essas pessoas mais seniores trazem para as equipes vozes e visões com ricas experiências de vida, tanto profissionais quanto pessoais e culturais.
Encarar a diversidade de forma produtiva e fecunda, tanto ao nível interno, em cada busca por vivências e conhecimentos novos e diferentes do que estamos acostumados e ao nível inter pessoal, com tolerância, diálogo e busca por visões distintas são fundamentais para mentes e equipes ricas em arsenal inovador. Entender que a realidade é plural e que devemos abrir os olhos, mentes e corações para novos pontos de vista deve ser naturalizado, afinal, já dizia Nietsche: “As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.”