Banco Invisível: Tecnologias e conceitos que farão com que bancos desapareçam

WhatsApp, WeChat e PicPay não deverão sobreviver por muito tempo. Através de tecnologias como IoT e Blockchain, bancos deverão se tornar invisíveis.

WhatsApp, WeChat e PicPay não deverão sobreviver por muito tempo. Através de tecnologias como IoT e Blockchain, bancos deverão se tornar invisíveis.

As novas tecnologias aplicadas aos serviços bancários estão evoluindo rapidamente com o uso de Inteligência Artificial, Big Data, Open Banking, Analytics, aplicativos de finanças pessoais, fintechs, internet das coisas (IoT), assistentes pessoais (Alexa, Siri e Cora) e tudo isso, poderá em breve convergir para que os bancos desapareçam, ou melhor, fiquem invisíveis à olho nu.

Este será o tipo de banco do qual você não precisará mais pensar. Você abre o olho ou aponta seu dedão (sem encostar, claro!) e pronto, está pago. 

Você fala “quero comprar este produto” e está pago. Você pega os produtos, sai da loja e pronto, já debitou na conta. Não tinha dinheiro na conta? Já foi efetuado um crédito pré-aprovado. 

Você diz “aplique 10% do meu salário na previdência da minha filha” e lá se foi o dinheiro para o fundo de investimento dela.

Estimo que entre 2025 e 2030, dinheiro, cartão, cheque, DOC, TED, boleto, agência, malotes, saque, depósito, extrato impresso, operações manuais, não existirão mais. Existirá “apenas” um serviço financeiro altamente personalizado, inteligente, móvel, sensível, adaptável que se esconde por trás de toda movimentação que você faz. 

“Você quer eliminar todo o aborrecimento, para que os bancos se tornem invisíveis”, disse Benoit Legrand, diretor de inovação do ING (instituição financeira global de origem holandesa).

É claro que esta mudança não será do dia para a noite, mas essa transformação está em curso, com sementes sendo plantadas em diversas áreas:

Pagamentos através de Internet das Coisas (Internet of Things – IoT)

Hoje vemos um grande avanço nos pagamentos via aplicativos de celular, mas espera-se que os pagamentos digitais se movam na direção dos wearables (dispositivos móveis que você usa), como pequenos aparelhos auditivos, relógios, óculos, biometria e reconhecimento de retina e facial.

Com tudo isso em operação, tirar dinheiro, cartão ou até mesmo um celular do bolso para pagar alguma coisa vai parecer arcaico. Aquele banco transacional que você conhece vai desaparecer.

Imagine que a internet está presente não apenas em seu ambiente e pertences como casa, carro e dispositivos móveis, mas também nos supermercados, nos ônibus, praças e restaurantes que vão reconhecê-lo e aprovar suas transações onde quer que esteja, seja lá o que você faça que exija algum tipo de operação financeira.

Será como se você fosse o próprio token!

Banco por Voz

Então você pede à sua assistente pessoal:

– Alexa, quero ganhar um coletinho da XP. Por favor, transfira R$100 mil da minha conta no Itaú para lá.

– Ok, vou providenciar! Diz a voz macia de Samantha (Interpretada por Scarlett Johansson).

Se você assistiu ao filme “Ela”, vai entender o que estou falando. Não tem na Netflix, nem no Prime, só pago via YouTube infelizmente. Recomendo que assista.

Detalhe: O filme foi lançado em 2013!

Seja via um wearable ou qualquer outro dispositivo conectado à internet, as atividades bancárias serão imensamente ampliadas pela interação via assistentes pessoais.

Google, Alexa, Siri vão prover um grande suporte nas questões financeiras simplesmente via voz. Basta perguntar ou solicitar que o pedido será feito, sendo toda autenticação necessária já processada previamente pela sua voz, token via assistente pessoal, protocolos de perfil, etc.

“Quando você pensa sobre o mundo e como acessaremos os serviços bancários, conversaremos com Alexa e Siri e obteremos informações financeiras”, disse Brett King, futurista, autor e fundador da Moven. “Podemos usar óculos inteligentes do Facebook e da Apple. Esses sistemas operacionais serão os guardiões da maneira como nos conectamos ao serviço bancário principal.”

Mas por que estamos indo nessa direção? Porque simplesmente os seres humanos são preguiçosos.

“Primeiro, precisamos ir ao banco para conseguir dinheiro. Agora você pode abrir o computador e fazer algumas coisas, pode tocar no telefone e pagar. A próxima etapa é dizer: Alexa, transferir cem reais para minha mãe. Este é o próximo passo na preguiça.” Diz Legrand

De forma complementar, as próprias assistentes virtuais dos bancos (Bia do Bradesco, por exemplo) também poderão interagir diretamente com sua assistente pessoal. Porque não? Imagine a conversa:

Viajei nessa interação entre assistentes? Claro que a conversa acima é uma brincadeira, mas as transações certamente acontecerão via algoritmos e APIs (Application Programming Interface) dos softwares diretamente com os serviços bancários e blockchain

Na medida em que as pessoas passam a confiar mais em aplicações autônomas e invisíveis, entra em cena a questão de segurança, fundamental para tudo isso acontecer com fluidez. É aí que entra a Blockchain.

Blockchain

Segundo a Wikipedia, “apesar das diferentes aplicações que a blockchain pode suportar, a aplicação financeira, lançada pela moeda criptografada (o bitcoin) é a que está exercendo maior impacto no momento. 

Muitos bancos já realizam experiências com a finalidade de adaptar o sistema aos seus próprios interesses e necessidades. A descentralização traz diferentes benefícios às instituições financeiras, contribuindo para aprimorar atividades como:

Os resultados já se fazem sentir ou são previstos com muita precisão. A tecnologia blockchain vem desenvolvendo importante papel no mercado de valores e transformando definitivamente a face do comércio. 

Conforme estudos realizados em co-autoria pelo Banco Santander, o sistema blockchain pode eliminar até 20 bilhões de dólares de custos bancários. O banco, que é o 30º maior do mundo, também assegura que é possível utilizar a blockchain em mais de 25 aplicações bancárias.

Assim, bancos como o próprio Santander, Citibank, Goldman Sachs, BBVA, Westpac e Commonwealth Bank e muitos outros já estão investindo na nova tecnologia visando redução de gastos e maior eficiência nas negociações.”

Perceba que a blockchain terá papel cada vez maior nas operações financeiras, quer sejam feitas entre pares, quer sejam utilizadas pelos bancos. 

Fato é que, você não vai ver nada disso. Tudo acontecerá invisivelmente por meio de algoritmos ultra sofisticados, que processarão suas transações de forma rápida, barata e segura.

Banking as a Service 

Lógico que nem tudo será invisível, intocável, 100% digital. É óbvio que terá uma pessoa do outro lado da linha para te dar suporte, se assim você o desejar. No dia a dia, o banco estará invisível, mas sim, ele estará lá. 

Nós seres humanos precisamos de contato, de alguém para entender e resolver algo que os algoritmos (ainda!) não resolveram.

Quanto mais digital nos tornamos, mais contato humano precisaremos. A hashtag #saudadesdaaglomeracao nas redes sociais prova isso.

Onboardings, curadoria e serviços mais consultivos 1:1 serão altamente demandados e valorizados.

Mas além disso, os bancos terão um papel diferente na prestação de serviço, tal qual uma plataforma SaaS (Software as a Service), disruptanto outros mercados e se tornando cada vez mais um marketplace.

Imagine que você quer comprar um carro usado e solicita o financiamento ao banco. Ao invés de simplesmente conceder o financiamento, os algoritmos do banco identificam uma loja no interior do estado que vende o mesmo veículo, porém novo, no mesmo preço.

Bingo, ele prestou um serviço pontual de pesquisa, usando sua inteligência artificial e de quebra ganhou uma comissão daquela loja. O mesmo pode acontecer com viagens, investimentos, compras em supermercados, etc.

Os bancos poderão ganhar mais com investimentos atrelados à performance e aos seus objetivos de vida. Eles podem ajudá-lo a alugar uma casa ou loja com as mesmas premissas, porém mais baratos e com isso ganhar comissões.

Eles podem ajudá-lo a melhorar suas assinaturas de serviços recorrentes e também formar seguros e previdência personalizados, adaptados à sua realidade e orçamento.

Indo mais além, os bancos vão sugerir apenas produtos e serviços que façam sentido na sua vida, que não oneram seu orçamento, que reduzam a pegada de carbono, que elevem sua inteligência financeira e consumo consciente, que reduzam gastos desnecessários escondidos no seu orçamento por falta de categorização e análise, enfim, uma infinidade de aplicações tecnológicas extremamente personalizadas.

E tem mais sobre o futuro dos pagamentos!

Com toda esta tecnologia, os bancos poderão oferecer a todo ecossistema de empresas (independente do porte), esferas públicas e órgãos governamentais seus produtos em formato “white-label”, ou seja, uma pequena loja de bairro poderá conceder empréstimos com sua marca, mas o motor por trás disso será o banco.

“Enquanto esse cliente receber um bom empréstimo e estivermos ajudando, não me importo se ele acreditar que a própria loja está concedendo o empréstimo”, disse Javier Rodriguez Soler, diretor executivo do BBVA USA.

Open Banking

Banco sempre foi um ícone da informação restrita e do cofre escondido nas profundezas da segurança. No futuro não será mais assim.

Cada vez mais veremos os bancos provendo seus serviços para players não financeiros, por exemplo, liberando integrações diretamente para softwares de terceiros como GuiaBolso e ContaAzul.

Nesses casos acima, os softwares entram direto no sistema do banco para acessar extratos, consolidar informações, enviar remessas de arquivos a pagar e receber, etc. Tudo com vários protocolos de segurança, claro.

No futuro, os bancos estarão municiados de ampla capacidade computacional, inteligência artificial e algoritmos de extrema sensibilidade, aliados à blockchain e inúmeros protocolos de segurança.

Com tudo isso em mãos, os bancos não terão problemas em se plugar à milhões de aplicações diferentes, provendo e coletando informações para se tornar cada vez mais onipresentes e invisíveis, sem prejuízos para nenhuma das partes. Pelo contrário, com benefícios para toda a cadeia envolvida.

Saúde Financeira Pessoal

E no meio de todo esse dinamismo, como ficam as finanças pessoais?

Nesse sentido, você poderá contar com aplicações bancárias (ou de terceiros) cada vez mais inteligentes, que direcionam parte das suas receitas para investimentos de acordo com seu perfil e também te avisam quando o orçamento estiver perto do limite.

Mas com tanta facilidade de comprar, fica evidente que as pessoas podem entrar em dívidas com facilidade. 

Como fica o controle das finanças? Jogadas num balaio único cheios de receitas e despesas desprovidos de categorias? Como fica a classificação de cada item que você gasta?

Esse é um dos grandes problemas nos aplicativos de hoje em dia.

“Eu sempre brinco, podemos colocar um satélite no espaço… mas não podemos categorizar nossas transações corretamente”, disse Kristen Berman, cientista comportamental e cofundadora do Irrational Labs e Common Cents Lab, da Duke University. “As transferências ainda estão sendo categorizadas como gastos em aplicativos, o que faz as pessoas não confiarem nesses tipos de aplicativos para fornecer informações, o que torna isso inútil. Por isso as pessoas não tomam as decisões necessárias. Não confiamos nas ideias que estamos recebendo.”

Aí entra o desafio.

Imagine que o banco sabe onde você está (geolocalização), em qual loja está comprando, qual produto ou serviço está consumindo, quem está junto com você e a sua temporalidade (hora, dia, mês, ano).

O banco também conhece seus hábitos de consumo, objetivos de vida (férias, por exemplo), entre outras inúmeras variáveis.

Com tudo isso em mãos, o software poderá classificar se o que você acabou de comprar é um item que entra na categoria “Habitação” ou em “Gastos Pessoais” com um Presente.

Exemplo: Na sua agenda consta que hoje é aniversário do seu cônjuge. Aí você vê uma linda blusa num site qualquer e diz “Esta está perfeita, pode comprar”. A assistente pessoal, entenderá rapidamente que é um presente e como tal vai classificá-lo nesta categoria em seus dados.

Mas se o banco for tão inteligente assim e ajudá-lo a comprar melhor, não se endividar, como que ele vai ganhar dinheiro?

Com clientes mais saudáveis em termos financeiros, os bancos terão duas grandes frentes para ganhar:

  1. Investimentos: Maior volume de investimentos gera mais taxas de administração e, principalmente, maiores volumes de spread para concessão de mais financiamentos;
  2. Comissões: Maior consumo via marketplace de serviços bancários e interrelacionados, conforme vimos anteriormente em Banking as a Service.

Resumo Final

Com a pandemia do Coronavírus, a transformação digital acelerou de forma exponencial ou como disse o AAA Dado Schneider “Transformação Covidigital”.

Embora este artigo exija uma boa dose de futurismo, acredito que os cenários imaginados já estejam sendo desenhados dia após dia. Atualmente tem-se falado muito dos Pagamentos Digitais via aplicativos como WhatsApp, WeChat, PicPay, etc. 

Eles vão crescer muito no Brasil e no mundo, mas sinceramente, não acredito que eles terão vida longa.

Hoje eles fazem muito sentido, dada explosão no uso da tecnologia e dispositivos móveis, acelerados pela COVID-19, mas olhando para o futuro, eu imagino algo diferente, alinhado ao que descrevi ao longo deste artigo e ao que você verá assistindo o filme “Ela”.

Pode parecer pretensioso da minha parte, mas é este o futuro que visualizo. Se estarei certo ou errado, só o tempo irá dizer.

Te vejo no futuro!

Forte abraço

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