Estamos passando por momentos turbulentos, momentos que nos fazem refletir sobre como ainda precisamos evoluir como sociedade. O coronavírus deixa claro que a grande maioria das nações não está preparada para uma pandemia, epidemia ou mesmo um surto de qualquer doença infectocontagiosa.
Num mundo globalizado, a proliferação de doenças a nível mundial tende a ocorrer de tempos em tempos. Em menos de duas décadas após o boom do milênio, tivemos a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), a gripe aviária, a gripe suína e agora o COVID-19.
Mas se é sabido que novas mutações de vírus e bactérias surgem a todo momento, porque não conseguimos nos antecipar a elas?
Talvez a resposta esteja na forma como encaramos e, principalmente, como agimos diante do problema. Algumas iniciativas governamentais ao redor do mundo mostram que tomar decisões e implementar planos de contingenciamento com celeridade nesses momentos faz toda a diferença. Se para alguns países como China, Espanha, Itália e Irã essa pandemia não será superada tão cedo, em outros países como Hong Kong, Singapura e Taiwan – que são vizinhos à China – as consequências serão bem mais brandas.
Mas quais práticas e tecnologias esses países menos afetados lançaram mão e como isso pode ser aplicado na saúde pública de municípios, estados e união aqui no Brasil?
Antes de adentrar no “como” cada nação obteve êxito em conter o Coronavírus, é importante trazer alguns dados para deixar mais claro a discrepância na proliferação da COVID-19 nos países citados. A tabela abaixo são números do dia 25 de março:
Considerando a proximidade ao território chinês, a baixa quantidade de casos e mortes em Singapura, Hong Kong e Taiwan impressiona. Por outro lado, o número de casos e a velocidade que estão aumentando na Itália, Espanha e Irã são ainda mais impressionantes (os novos casos levam em conta o relatório anterior, que tem sido divulgado diariamente pela OMS).
Aqui no Brasil, estamos observando um crescimento exponencial, tal qual o visto nos países em situação mais crítica. Até a data que escrevo este artigo, o Ministério da Saúde junto com as Secretarias Estaduais de Saúde já haviam reportado um total de 23.430 casos confirmados e 1.328 mortes. Este número já deve ser bem maior, pois os testes só estão sendo feitos em casos mais graves e as análises das amostras estão, até o momento, centralizadas na FIOCRUZ/RJ.
Mas afinal, o que fez essa relação de casos e mortes pela COVID-19 serem tão diferentes nos países citados?
Vi muitas reportagens citando o uso ostensivo da tecnologia no diagnóstico e tratamento da pandemia. Eu mesmo publiquei alguns materiais mostrando cases de como essas tecnologias foram utilizadas nos países asiáticos. Mas será que a diferença está essencialmente na tecnologia empregada?
Na minha opinião, não! Os países europeus e mesmo os Estados Unidos têm acesso a maioria das tecnologias que Singapura, Coréia do Sul, Hong Kong e Taiwan lançaram mão. Se nos aprofundarmos um pouco em cada um desses países, conseguimos ver que a grande diferença está na forma como cada um conduziu o plano de contingenciamento da crise. Ou seja, a diferença não foi na tecnologia, mas sim na gestão.
Enquanto na maioria dos governos e também das organizações, se utiliza de métodos de gestão tradicional (foco no planejamento e na tentativa de prever o que irá acontecer no futuro), Taiwan, Singapura e Hong Kong mostraram uma maturidade invejável. Seus planos de contingenciamento utilizaram claramente técnicas de gestão ágil (foco em dar respostas rápidas aos cenários que surgem, sempre priorizando a interação constante entre o time em detrimento de processos fechados e hierarquia).
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Em Taiwan, gestão ágil foi capaz de neutralizar o Coronavírus
Taiwan deixou claro que a escolha pela metodologia ágil fez toda diferença nos resultado no combate à pandemia. A ilha, que ainda é território disputado pela China e dista apenas 130km da porção continental, possui quase 24 milhões de habitantes e até agora registrou apenas 1 morte em decorrência da COVID-19.
Usando como exemplo o caso de Taiwan, que saiu quase ilesa do coronavírus, podemos fazer um paralelo entre as ações tomadas e os princípios da gestão ágil:
Interação multidisciplinar
Membros do Centro de Controle de Doenças – que lá já existia por conta de epidemias prévias – foram acionados e começaram a trabalhar em conjunto assim que os primeiros casos foram reportados na província de Hubei. Diferentemente de outros países, o governo taiwanês não aguardou nenhum pronunciamento oficial do governo chinês ou mesmo orientações vindas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Pelo contrário, ao sinal dos primeiros casos, os maiores infectologistas da ilha embarcaram prontamente para Pequim com o objetivo de entender o comportamento do vírus e seu grau de letalidade.
Foco no cliente
O foco da atuação em Taiwan foram as pessoas diagnosticadas com sintomas equivalentes ao COVID-19 e principalmente aquelas que reportaram comorbidades que pudessem agravar um eventual caso de infecção pelo vírus. Através da realização ostensiva de testes rápidos em rodovias e aeroportos – 850 mil pessoas da ilha trabalham na China – foi possível identificar este público. Após identificados, foi feito isolamento social destes e evitar a contaminação comunitária – quando já se perdeu o controle de como o paciente foi infectado.
Foco na entrega rápida de respostas e soluções e na iteração constante
Conforme novas informações chegavam nos sistemas do Centro de Controle de Doenças, os membros reportavam às autoridades sanitárias para que essas junto ao governo local pudessem definir as próximas ações a serem tomadas contra a pandemia. Neste ponto, fica claro que, sim, a tecnologia foi determinante para o sucesso do plano de contingenciamento, não pela sua presença, mas pelo seu uso ostensivo nos momentos certos. Tendo a situação já razoavelmente sob controle, o governo pode se debruçar nas campanhas de higienização e distanciamento social para evitar novos casos não mapeados.
Se analisarmos outros países que vêm obtendo sucesso no combate ao coronavírus, percebe-se um comportamento semelhante ao adotado por Taiwan. Foco nas respostas rápidas, na funcionalidade das soluções propostas e no público mais interessados (com maior risco). Isso não quer dizer que foram adotadas necessariamente as mesmas medidas. Cada país conseguiu entender o que melhor se adequa a sua realidade levando em consideração o perfil demográfico e epidemiológico da população, bem como os recursos financeiros, tecnológicos e de pessoal disponíveis.
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Durante a Pandemia, devemos aplicar Gestão Tradicional ou Ágil?
Na gestão tradicional, o foco está no planejamento e na tentativa de prever o que irá acontecer no futuro (forecasting). Essa metodologia funcionou relativamente bem até o século passado quando as mudanças na economia e na sociedade se davam de forma linear. Com o advento da 4ª revolução industrial, temos observado mudanças exponenciais e constantes na forma como produzimos, consumimos e nos comunicamos. Neste cenário, métodos antigos já não funcionam tão bem.
Por sua vez, na gestão ágil, o foco está não em tentar prever o futuro, mas sim em dar respostas rápidas aos cenários que surgem sempre priorizando a interação constante entre o time em detrimento de processos fechados e hierarquia; a funcionalidade da solução do problema em detrimento de documentação completa da solução e o cliente mais do que as regras e normas pré-estabelecidas.
O Brasil deveria utilizar da gestão ágil também?
O @minsaude atualiza a situação do #coronavírus no Brasil – 13/04:
▶️23.430 casos
▶️1.328 óbitosConfira a plataforma: https://t.co/fIH1TRftNx#COVID19 pic.twitter.com/382b2fGeNH
— Ministério da Saúde (@minsaude) April 13, 2020
Ainda é cedo para analisarmos como o Brasil se sairá nessa luta contra a COVID-19. Os números iniciais mostram um crescimento acelerado, mas que pode ser contido com as ações certas. Está claro que não existe receita de bolo para lidar com a pandemia em curso, mas precisamos rapidamente mudar a forma como encaramos a gestão desta crise.
É necessário um monitoramento mais próximo, mais interação entre as partes envolvidas – união, estados, municípios e órgãos competentes – e principalmente respostas mais rápidas, mesmo que não definitivas.
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A Transformação Digital (definitivamente) chegou. E agora? 📱
A crise do novo Coronavírus encurtou para um período de 2 meses (ou até 2 semanas) o que muitos gestores acreditavam que era um processo de décadas: a tal da Transformação Digital.
A imagem abaixo exemplifica bem essa ideia:
De repente, todo mundo parece estar falando sobre Transformação Digital, né?
Crises são, muitas vezes, grandes aceleradoras de mudanças. A crise do novo Coronavírus fez muitos negócios enxergarem que transformação digital e inovação são muito mais do que palavras bonitas.
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